O governador Márcio França (PSB), pré-candidato à reeleição ao governo de São Paulo, afirmou, nesta quarta-feira (30), durante a sabatina realizada pela UOL, que fez sua obrigação, como governador de São Paulo, ao assumir o protagonismo nas negociações com os caminhoneiros em greve, no último fim de semana. Rebatendo a insinuação do repórter de que estaria agindo em função da eleição, França foi categórico. “Claro que não. A verdade é que qualquer um na condição de governador de São Paulo vai ter protagonismo, não tem como não ter”, disse ele. “Era minha obrigação como governador agir para resolver o problema”, frisou.
“[As autoridades] Não devem fugir, não devem desaparecer, se omitir… Certo ou errado, fiz a minha parte quando vi que o negócio não estava se resolvendo. O governo federal até que tentou, mas se comunicou com as pessoas erradas, aí deu tudo errado, foi uma sequência de equívocos”, afirmou. “Mas não foi intencional. Você acha que um presidente da República gostaria de ter essa confusão no colo dele? Claro que não. Mas de alguma forma o governo se comunicou errado e muita gente acabou se omitindo”, acrescentou França.
Michel Temer e sua equipe acharam que tinham resolvido tudo apresentando uma proposta de redução de 10% no preço do diesel na refinaria por apenas 15 dias. Alguns representantes dos caminhoneiros apressaram-se em aceitar a proposta mas, logo ficou evidente que os líderes que se recusaram a assinar o compromisso e se retiraram da reunião em Brasília, tinham razão. A greve se ampliou e ganhou uma vigoroso apoio na sociedade. Ficou claro para todo o país que a política de preços da Petrobrás, defendida por Pedro Parente, manteria os aumentos diários nos preços dos combustíveis. Todos viram também que o acordo naquelas condições era inaceitável. A greve cresceu e o desabastecimento se agravou.
Diante do impasse, o governador Márcio França assumiu a liderança na negociação com os caminhoneiros no estado na sexta (25), após as conversações do governo federal terem sido frustradas, como disse França, “pelo equívocos do Planalto”. Segundo o governador, o problema que levou à continuidade da greve foi que a decisão foi tomada “na mesa”, em Brasília, e não considerou caminhoneiros que não estavam ligados às grandes entidades da categoria. “Quando eles decidiram na mesa que acabou a greve, aqui na ponta houve uma revolta”, disse.
“O presidente se reúne lá numa sala em Brasília – muito típico do que acontece com quem está em Brasília, acha que Brasília é um espelho do Brasil. Negocia com algumas pessoas e acha que está negociando com o Brasil”, observou. O chefe do executivo paulista partiu para a resolução do impasse intensificando o diálogo com os caminhoneiros e pressionando Brasília a aceitar algumas reivindicações que ele considerava justas. Vários telefonemas foram feitos entre o Bandeirantes e o Palácio do Planalto.
Márcio França chamou as lideranças dos caminhoneiros de São Paulo para um diálogo no Palácio dos Bandeirantes. Na primeira reunião, ele já se comprometeu com a proposta de suspender a cobrança de pedágio dos eixos elevados dos caminhões vazios. Foram discutidas propostas de redução e congelamento dos preços do diesel. A ideia debatida no Bandeirantes foi de um congelamento de preços por 60 dias.
Indagado sobre as garantias que teria de que, de fato, estava negociando com porta-vozes dos caminhoneiros, França disse que era preciso ter certeza. “Nessa hora todo mundo diz que lidera”, brincou. Ele afirmou que pediu aos participantes da reunião que dessem uma prova de sua liderança e desbloqueassem vias como o Rodoanel e a a rodovia Régis Bittencourt. “Por WhatsApp, eles mandaram mensagens e, em 30 minutos, a Régis estava desbloqueada. Em 40 minutos, o Rodoanel. Estava provado, tinha uma prova consistente [dessa liderança]”, afirmou. Estava provado que eles tinham liderança e falavam em nome da categoria.
Quando o Planalto percebeu que não tinha como solucionar o impasse e foi informado de que Márcio França estava conduzindo com habilidade as negociações no estado, o ministro Carlos Marun foi mandado para acompanhar as tratativas feitas pelo governador. Já havia uma discussão avançada sobre a redução do preço do diesel na bomba e não na refinaria, e sobre a suspensão dos pedágios dos eixos elevados. A proposta defendida pelo governador e pelos caminhoneiros do estado, era também de um congelamento por 60 dias. Além disso, havia a reivindicação de que os ajustes só ocorressem de 60 em 60 dias. Era a chamada previsibilidade, que Pedro Parente detonou com seus aumentos diários.
Para o governador, um dos principais pontos em que Temer errou na demora da negociação foi sobre os 60 dias de congelamento do preço do diesel – demanda apresentada já em São Paulo, no sábado, juntamente com a não cobrança do eixo suspenso, nos pedágios, e a anulação das multas pelos dias parados.
Para França, o governo Michel Temer cometeu “uma série de equívocos” nas negociações da paralisação dos caminhoneiros, que acabaram estendendo o movimento. Só depois de alguns dias, o Planalto aderiu à proposta de São Paulo do congelamento. Mas, Temer ainda cedeu às pressões de Pedro Parente e não aceitou reajustes de dois em dois meses. Propôs reajustes mensais. Para compensar, o governo cedeu na definição do frete mínimo e na destinação de 30% das cargas da Conab (A Companhia Nacional de Abastecimento) para oa caminhoneiros autônomos. A maioria das lideranças resolveu aceitar a proposta.
O governador foi indagado se as concessões no caso da atual greve não poderiam ser o estopim de uma rebelião tributária. França respondeu que isso não é descartado, mas minimizou dizendo que se trataria de uma questão mais pontual. “Quase 90% da população aprova a greve dos caminhoneiros [segundo pesquisa Datafolha de hoje]. Mas elas [as pessoas que apoiam a paralisação], em si, não são ligadas a caminhoneiros. Elas estão insatisfeitas com tudo, e o movimento adensa, amalgama todo esse sentimento de revolta contra os impostos e contra tudo que se puder pagar”, definiu.