A greve dos ferroviários franceses para rechaçar a privatização da Sociedade Nacional de Ferrovias (SNCF) e o corte de direitos, pensões e salários, foi retomada no sábado e domingo (28 e 29 de abril). A paralisação dos trens, transporte que tem um grande peso no país, responde ao chamado dos sindicatos dos trabalhadores da SNCF para fazer greve dois dias a cada cinco contra a política de desmonte do governo de Emmanuel Macron.
O movimento de protesto iniciou no dia 3 de abril e irá até fins de junho, o que significa 32 dias parados ao longo desta jornada de lutas. Segundo as informações divulgadas pelos organizadores só circularam a metade dos trens de alta velocidade previstos, dois de cada cinco trens regionais, um de cada três interurbanos e três de cada cinco trens da região em torno da capital, Paris.
Emmanuel Grondein, diretor do sindicato Sud Rail, assinalou: “Estamos defendendo não apenas os direitos dos ferroviários, mas o serviço público francês como um todo”, e denunciou que o governo quer aplicar o arrocho para facilitar a privatização do setor.
O tráfego internacional também foi afetado com uma circulação reduzida à Bélgica, Países Baixos, Suíça, Reino Unido e Espanha.
Em entrevista com a emissora Europe1, Macron se esforçou para diminuir o peso da medida e repetiu que estão fora de discussão as três questões essenciais em disputa: a abertura à concorrência do setor ferroviário, ou seja, a privatização; uma suposta ‘reorganização’ da SNCF, e o fim das conquistas dos trabalhadores ferroviários, o que até agora garante aos funcionários determinadas vantagens salariais e sociais.
A SNCF é uma das principais empresas públicas francesas. Ela exerce duas atividades: por um lado, é encarregada dos serviços de transporte ferroviário de passageiros e de mercadorias; e por outro, é responsável pela exploração e a manutenção da rede de ferro nacional francesa, por intermédio do SNCF Réseau. Ela emprega aproximadamente 250.000 pessoas. A rede ferroviária conta com aproximadamente 32.000 km de linhas, dos quais 1.500 km de linhas a alta velocidade e 14.500 km de linhas elétrificadas. Ela faz circular em média 14.000 trens por dia. Cerca de 4,5 milhões de pessoas usam diariamente esse meio de transporte.
Ao tratar do longo período de greve que se estenderá pelos próximos meses, o presidente da SNCF, Guillaume Pepy, pediu a compreensão e colaboração dos franceses ao tempo em que responsabilizava o governo pelos transtornos: “Quero ser muito claro, o movimento grevista, sem dúvida, tem ampla adesão e tornará a vida de muitas pessoas mais difícil, mas o sucesso de nosso movimento é chave para garantir os direitos de todos os trabalhadores franceses”.
A organização CGT-Cheminots (CGT-ferroviários) convocou uma grande manifestação nacional dos ferroviários no dia 3 de maio para deixar clara a disposição de não recuar nas reivindicações e elevar a pressão sobre o governo. Já o primeiro-ministro, Edouard Philippe, asseverou em entrevista ao jornal Le Parisien que “abertura das ferrovias, a reestruturação da SNFC e o fim das admissões de funcionários pelo estatuto dos trabalhadores ferroviários”, são itens “ingociáveis”. Essas declarações obstaculizam o sucesso dos diálogos previstos entre Philippe e os sindicatos em 7 de maio, pois essas três questões são precisamente as mais importantes das reivindicações dos trabalhadores.
Não são apenas os ferroviários que se levantam contra a política neoliberal de Macron. Os funcionários da Air France reivindicam da direção, desde 20 de fevereiro, um aumento real dos salários, que estão congelados desde 2011, em 6%. Dez sindicatos de funcionários da Air France realizaram greve para exigir aumentos salariais, nos dias 17, 18, 23 e 24 de Abril. Os sindicatos, que representam pilotos, tripulantes de cabine e pessoal de terra convocaram paralisações para maio.
E os estudantes nas universidades seguem ampliando a mobilização por melhores condições de ensino e mais verbas para o ensino público.
SUSANA SANTOS