A pantomima de Macron do “grande debate nacional”, enquanto sua tropa de choque baixa o porrete nos coletes amarelos, foi desmascarada no 12º sábado de protestos contra o “presidente dos ricos”, com manifestantes exibindo em Paris e outras cidades curativos nos olhos e roupas manchadas de tinta vermelha, representando as vítimas.
Os coletes amarelos também portavam fotos de manifestantes feridos pelas balas de borracha e granadas stingball nos últimos atos. Eles também foram às ruas de Bordeaux, Lyon, Toulouse, Marselha, Estrasburgo, Lille e Montpellier.
Desde o início dos protestos, o lançador de balas de borrada foi usado 9.228 vezes contra os manifestantes, havendo 1700 feridos registrados. Segundo a mídia francesa, das 20 pessoas atingidas nos olhos por balas de borracha, dez perderam a visão.
Os coletes amarelos, que já derrubaram o aumento do preço do diesel e forçaram Macron a vários recuos a contragosto, seguem exigindo sua renúncia, a restauração do imposto sobre fortunas, que ele aboliu, e a instauração de um mecanismo de consulta popular. Os protestos também vêm inviabilizando a próxima fase de suas “reformas”, a da Previdência, destinada a piorar a anterior, cometida por Sarkozy em 2012.
Nas manifestações deste sábado (2), podiam ser vistos cartazes como “nós perdemos os olhos, mas o cego é você”, “não se atira no seu próprio povo”, “desafiamos as balas de borracha democráticas e as granadas mutilantes” e “unidos e orgulhosos contra a opressão”.
O ato é a resposta à decisão do Conselho de Estado francês, que rejeitou os pedidos de suspensão do uso das balas de borracha, e as declarou “absolutamente necessárias” ao trabalho das forças de repressão.
O franco-português Jérôme Rodrigues, que foi gravemente ferido no olho com uma bala de borracha no último fim de semana, afirmou à rádio France Info que “estou aqui porque estou de pé, o que não nos mata nos torna mais fortes”.
Ele exigiu a imediata proibição das granadas stingball contra manifestantes. Dispositivo que “tem TNT dentro e é um perigo absoluto”, acrescentou. Macron lançou 80 mil policiais nas ruas da França no sábado e em Paris a marcha dos coletes amarelos foi “escoltada” por 5 mil policiais e seis tanques blindados.
“Os direitos da defesa devem ser desrespeitados quando se veste um colete amarelo?”, questionaram 59 advogados franceses à Rádio France Info (RFI). Eles denunciaram penas excessivas aos condenados e audiências sem sequer a presença de advogado.
Pesquisa publicada no dia 31, do Instituto Sofres-OnePoint assinalou que 73% não confiam em Macron e tão somente 24% ainda têm uma opinião favorável. O que poderia ser explicado por um cartaz do protesto de sábado: “eles impõem um grande debate nacional durante a semana e atiram em nós no sábado”.