Ferroviários, estudantes, garis, cuidadores e outros agentes e funcionários da saúde, advogados, trabalhadores da rede Carrefour e funcionários da Air France, estão entre os setores que experimentam crescente mobilização contra o ataque do presidente Emmanuel Macron aos serviços públicos com a intenção de perpetrar sua crescente privatização.
Os servidores, a quem Macron considera como os “profissionais da desordem”, se insurgem contra o desmonte do Estado na França, afirma Maud Vergnol, colunista do jornal L´Humanité. Ela ressalta que “desde os trabalhadores nos Correios, aos universitários; desde os funcionários da Justiça aos da Saúde, desde os agentes sociais, aos funcionários das escolas públicas, emana a resistência ao anacronismo que significa a cultura do privado aplicada aos serviços públicos e aos profissionais do setor. Amplas camadas, nas mobilizações populares, advogam o contrário: a necessidade de retomada do sentido do trabalho e dos serviços públicos, abafados pelos critérios de rentabilidade e a sanha pelos lucros, pela valorização da ideia de alto nível de atenção ao bem comum e ao interesse geral”.
Nas manifestações do dia 15 de abril, segundo as centrais que convocaram as marchas, saíram às ruas 58 mil franceses. O ato em Paris foi reprimido pela polícia que deteve 63 manifestantes. A maior das manifestações do domingo foi em Marselha, onde a principal palavra de ordem entoada era: “Parem Macron!”.
A onda de greves e manifestações que tomaram conta da França durante o mês de abril e estão programadas para se estenderem até o final de junho, tem como vértebra a greve intermitente dos ferroviários que alternam dois dias de greve com cinco de trabalho, contra medidas que vão desde a demissão de funcionários estáveis ao congelamento de salários, passando pelo corte dos investimentos no sistema ferroviário.
Segundo o ministério do Interior da França, o clima esquentou em Nantes e Montpellier, com ataques a lojas e prédios públicos pelos manifestantes irados.
Macron tenta isolar os grevistas e manifestantes dando entrevistas e declarações de que cortar direitos e proteção trabalhista vai “tornar a França um país mundialmente mais competitivo”.
Uma ladainha vazia que se ouve no Brasil, ou em qualquer país do mundo sob governo comandado pelo nefasto ideário neoliberal.
Os estudantes universitários estão fazendo do mês de abril um dos mais movimentados, em termos de ocupações, assembléias e protestos, desde o afamado Maio de 1968, quando o país parou com milhões de grevistas há 50 anos.
A resposta tem sido uma repressão crescente sobre os estudantes. No dia 9 de abril, o reitor da Universidade de Nanterre decretou fechamento administrativo da universidade e solicitou a intervenção policial no campus, desrespeitando as conquistas estudantis de liberdade de manifestação e assembleia. A polícia entrou em um anfiteatro em Nanterre para interromper a força uma assembleia geral estudantil.
No decorrer do mês de abril, houve agressão policial a estudantes em outros campi franceses, a exemplo dos de Nantes, Bordô, Paris, Lille, Caen, Dijon, Grenoble, e Estrasburgo. “Uma forma de repressão à contestação que se generaliza perigosamente”, como advertiu documento da CGT francesa que exigiu o fim da truculência e a liberação dos encarcerados durante as assembléias e protestos estudantis.
A CGT anuncia articulação com outras centrais sindicais para a convocação de uma greve geral no dia 19 de abril.