Milhares de franceses foram às ruas de Paris e outras cidades da França, na noite da terça-feira (7), para celebrar a morte do defensor dos crimes contra a humanidade cometidos por Adolf Hitler e negacionista do Holocausto, Jean-Marie Le Pen, na manhã da terça-feira (7), aos 96 anos.
A maior concentração de cidadãos para comemorar o fim do personagem da extrema direita francesa foi na Praça da República, ponto clássico para celebrações em Paris. Com fogos de artifício, música e espumante, franceses de vários bairros brindaram e dançaram no meio da rua.
“Este racista sujo está morto”, dizia um cartaz no meio da multidão no centro da capital francesa.
Em Lyon, cerca de 600 pessoas, convocadas pelo site de notícias Rebellyon pelo X para “celebrar” a morte de Jean-Marie Le Pen, dispararam fogos de artifício.
Em Marselha, onde centenas de pessoas se reuniram no antigo porto da cidade, o ambiente também era festivo, entre garrafas de champanhe, chapeuzinhos de festa e uma placa onde estava escrito “finalmente”.
A líder dos deputados do partido de esquerda França Insubmissa, Mathilde Panot, defendeu as manifestações que celebravam a morte de Jean-Marie Le Pen, dizendo que ele era um “inimigo da República”, em entrevista à rádio RTL.
CONDENADO POR APOLOGIA AOS CRIMES DOS NAZISTAS
No fim da década de 1960, no momento em que a tragédia da Segunda Guerra Mundial ainda permanecia na vida dos franceses, Le Pen foi condenado por apologia aos crimes de guerra por ter publicado um disco com músicas do Terceiro Reich de Adolf Hitler. Para justificar a postura criminosa e as afirmações nazistas, ele dizia que era “um homem livre”.
Le Pen vinha enfrentando uma série de processos, nos últimos anos. Em 2016, foi condenado por repetir sua antiga afirmação de que as câmaras de gás, nas quais milhões de pessoas foram executadas durante a Segunda Guerra Mundial, foram um “detalhe” da história. Um tribunal de Paris o declarou culpado por conciliar com crimes contra a Humanidade.
Ele já havia sido condenado pela justiça do país por essa declaração inaceitável, feita pela primeira vez em 1987. Em 2 de abril de 2015, em um programa de rádio francês, um jornalista lhe perguntou se ele se arrependia da afirmação. “Nem um pouco. O que eu disse correspondia ao meu pensamento de que as câmaras de gás foram um detalhe da guerra”, insistiu.
Também elogiou várias vezes o general Philippe Pétain, líder do regime colaboracionista fascista durante a ocupação da França pelos nazistas e chegou a afirmar que o vírus ébola era a solução para acabar com o aumento da população.
“As declarações mais controversas de Jean-Marie Le Pen foram as de que ele não tinha certeza se as câmaras de gás nazistas existiram; as de que ele acreditava na ‘desigualdade das raças, como provado pela história’ e que ‘a ocupação nazista da França não foi tão desumana’. São ilações realmente inaceitáveis, até mesmo para conservadores obstinados”, assinalou Jean-Yves Camus, pesquisador do Observatório das Políticas Radicais da Fundação Jean Jaurès, em Paris.
Em 2002, Le Pen chegou ao segundo turno das eleições presidenciais. O avanço de seu partido, a mal chamada Frente Nacional, foi derrotado pelo conservador Jacques Chirac, depois de grandes manifestações contra a extrema-direita em Paris naquele ano.
O líder da Frente Nacional (FN), mais tarde rebatizada de Rassemblement National (RN) quando a sua filha Marine assumiu a liderança, foi eurodeputado durante 35 anos.
O veterano líder do movimento França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, escreveu nesta terça que a luta contra Jean-Marie Le Pen acabou, mas “a luta contra o ódio, o racismo, e a islamofobia continua”.
O funeral de Jean-Marie Le Pen será realizado no sábado (11) em sua cidade natal, La Trinité-sur-Mer, a cerca de 500 km a oeste de Paris.