A França viveu, nesta segunda-feira 1º de Maio, mais de 300 manifestações concentradas contra a reforma da Previdência que aumenta a idade legal de aposentadoria de 62 para 64 anos, provocando sucessivas greves e protestos.
“Este Primeiro de Maio é um dos mais fortes do movimento social”, afirmou a secretária-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT), Sophie Binet. Os sindicatos garantem que 2,3 milhões de pessoas foram às ruas em todo o país.
“Primeiro, rejeitamos essa reforma do sistema previdenciário, ela deve ser retirada. Não voltaremos à normalidade até que o governo retire a reforma. E depois, queremos colocar na mesa de negociação as questões que realmente preocupam os franceses: aumento de salários, redução da jornada de trabalho, igualdade de gênero, meio ambiente etc.”, explicou Sophie à Radio France Internationale (RFI).
Em Paris, no início da tarde, apesar de uma forte pancada de chuva, a animação tomou conta. “Estamos aqui, Macron. Mesmo que você não queira, estamos aqui!” – era puxado a todo momento nas ruas, ganhando coro imediato dos participantes.
“Não é o fim da luta, é o protesto do mundo do trabalho contra esta reforma”, disse o líder da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), Laurent Berger, no começo da manifestação na capital, que teve a participação de 550 mil pessoas de acordo com a CGT.
1º DE MAIO UNITÁRIO
No restante da França a participação também foi expressiva, com 130 mil pessoas em Marselha, 100 mil em Toulouse, e 40 mil pessoas em Caen, de acordo com a CGT, apontando que esta é a primeira vez em 14 anos que os sindicatos franceses se unem sob a mesma bandeira para o Dia Internacional do Trabalhador. O último desfile unido com as oito principais centrais do país aconteceu em 2009, diante da crise econômica.
Aos franceses se somaram representantes sindicais estrangeiros, como coreanos, turcos, suíços, colombianos, americanos e espanhóis.
“MACRON DEMISSÃO”
“Macron, demissão!”, dizia um enorme colete amarelo artesanal, que manifestantes penduraram na estátua que domina a Praça da República, em Paris, de onde partiu a manifestação.
Um dos pontos do plano de Macron para superar o conflito é negociar uma suposta melhora nas condições de trabalho, mas os sindicatos ainda não decidiram se vão participar da reunião que a primeira-ministra, Élisabeth Borne, vai propor em breve.
Após 12 jornadas de manifestações e a aprovação da reforma passando por cima da Assembleia Nacional, a rejeição de muitos franceses permanece intacta. M’hmed Buhallut, representante dos trabalhadores da limpeza da capital, denunciou que “no setor de limpeza temos condições muito difíceis. Acordamos às 4 ou 5 da manhã e terminamos às 10 da noite. Muito poucos trabalham até os 62 anos porque acabam exaustos, imagine até os 64 anos. Estamos mobilizados contra essa reforma forçada, injusta, antidemocrática de Macron”.
O sindicalista refere-se à aplicação do artigo 49-3 da Constituição francesa pelo governo Macron para adotar a reforma sem que os deputados votassem a lei. Embora o presidente busque virar a página, nos últimos dias os sindicatos franceses, em uníssono, mantiveram a pressão contra o governo, com assobios e panelaços em todas as suas aparições públicas, para exigir a retirada da reforma.
Agora estão previstas duas datas, em 3 de maio o Conselho Constitucional pronuncia-se sobre uma proposta de referendo para votação da lei. E no dia 8 de junho, os deputados analisam um projeto de lei para revogar a reforma.