ANA CAMPOS, de Paris
Em toda a França, milhares de pessoas foram às ruas neste dia 5 para manifestar contra a “Rrforma” da Previdência posta em prática pelo governo de Emmanuel Macron, numa Greve Geral nacional. Segundo a Confederação Geral do Trabalho (CGT), foram cerca de um milhão de manifestantes em mais de 100 cidades.
Em Paris, as manifestações juntaram 250 mil pessoas. Foram trabalhadores dos setores público e privado: professores, trabalhadores da saúde e dos transportes, funcionários da SNCF (Sociedade Nacional dos Caminhos de Ferro da França), e mesmo aposentados que bradaram um enorme “não” à ‘reforma’ de Macron.
“Foi uma mobilização muito forte, tanto no setor público, quanto no privado”, comemorou Philippe Martinez, secretário-geral da CGT. Para o sindicalista, “as tentativas feitas pelo governo de dividir os trabalhadores não funcionaram (…) essa quantidade de gente é algo jamais visto!”.
Yves Veyrier, secretário-geral de outra central francesa, a Força Operária, está de acordo: “Começamos alto!”, comemorou. “É uma amplitude rara, inédita desde 2010 ou 1995”, disse o líder sindical.
Nos mesmos moldes da “reforma previdenciária” brasileira, a francesa é apresentada pelo governo como “igualitária”, mais acaba por diminuir em muito a aposentadoria dos franceses. Dentre as principais mudanças estão a criação de uma “idade pivô”, a qual ainda não foi definida, mas seria a idade que o cidadão deveria atingir para conseguir a aposentadoria completa. Atualmente existe uma idade mínima, de 62 anos, com a qual é possível se aposentar ainda com os vencimentos completos.
Um outro ponto que tem causado revolta é a pretensão do governo, em criar um regime geral universal. Atualmente existem 42 regimes de aposentadoria na França, porque cada um trata de uma profissão e situação de trabalho diferentes. Com um regime universal, carreiras perigosas ou insalubres seriam tratadas da mesma forma que àquelas em que o sujeito passa o dia no escritório. Os cálculos feitos com base no regime de Macron [há diversos sites que fazem o cálculo a partir dos dados de cada trabalhador], mostram que as aposentadorias podem despencar até mais de um terço do que seriam pelo regime atual.
Frente à grande mobilização dos sindicatos, o ministro da educação, Jean-Michel Blanquer, chegou a enviar um e-mail a todo o corpo docente nacional para tentar convencê-los de que não há nada de errado com a reforma, usando argumentos como o de que nenhum segurado se aposentaria com menos de mil euros, sendo que o salário mínimo é de 1.171,34 €.
A manifestação desta quinta foi uma das maiores da história, e segundo os sindicatos, o movimento deve continuar até que o governo responda às reivindicações dos trabalhadores.