A França foi inteiramente tomada neste final de semana com a realização de mais de 2.000 manifestações contra o presidente Emmanuel Macron e o aumento brusco dos combustíveis causado pela elevação de impostos. Os protestos que prosseguiram no domingo entraram pela segunda-feira. O comparecimento ao chamado protesto dos “Gilets Jaunes” (coletes amarelos) foi massivo, estimado em 350 mil franceses.
As demonstrações de sábado e domingo incluíram a suspensão do tráfego nas principais avenidas e rodovias do país e confrontos com a polícia. O Ministério do Interior teve de reconhecer a dimensão dos protestos assumindo que a participação no sábado chegou a 288 mil.
O nome do movimento remete à cor dos coletes fluorescentes que, por lei, cada motorista francês é obrigado a portar no carro para auxiliar em caso de acidente.
Desde o início do ano, o reajuste dos preços já alcançou 7,5% para gasolina e 15% para o diesel, contra uma inflação inferior a 2%. No total, a partir do início de 2019, na sequência do aumento dos impostos e preços, as despesas das famílias francesas irão crescer entre 100 e 250 euros por mês (de 430 a 1000 reais), principalmente para aquelas que vivem em zonas afastadas dos grandes centros e têm o carro como único meio de transporte.
Em Paris, os atos pedindo a renúncia de Macron e a diminuição dos valores dos combustíveis começaram bem cedo no sábado, com os participantes concentrados próximos a uma das entradas da capital, bloqueando suas vias estratégicas. A Avenida Champs Élysées ficou tomada. Até mesmo estradas em direção ao aeroporto Charles de Gaulle foram bloqueadas. Uma concentração frente à residência oficial do presidente encerrou os atos na capital. Com o crescimento dos protestos, no domingo a “Operação pedágio gratuito” forçou as autoridades a recomendarem à população que somente viajasse caso fosse extremamente necessário.
Os dados oficiais apontam que, uma pessoa morreu, 409 ficaram feridas – 14 delas gravemente – e mais de 150 foram detidas pela polícia. A mulher que perdeu a vida foi atropelada nas barricadas por uma motorista que entrou em pânico.
“Estamos aqui, somos o povo. Nós, os trabalhadores já não podemos viver”, denunciou Evelyne Raliere Binet, participante de um bloqueio de rodovia em Jura (leste), onde erguia cartaz com os dizeres “SOS de uma nação em perigo”.
O prefeito de Troyes e ex-ministro da Economia, François Baroin, convocou o governo a “escutar esta mensagem profunda de alerta”. “Não pode fazer com que não houvesse ocorrido nada. Os coletes amarelos não são outra coisa que a classe média que está vivendo uma interrogação sobre o seu futuro, sobre o seu poder de compra. Eles pedem a Macron que escute. Espero que sejam ouvidos”, assinalou.
A alta do preço dos combustíveis não é mais do que “um elemento desencadeante” contra Macron, uma vez que “o descontentamento é bem mais geral”, assinala Vicent Thibault, encarregado de estudos no Instituto de opinião Elabe. Levantamento do instituto aponta que os “coletes amarelos” contam com 73% de apoio dos franceses e que “54% dos eleitores de Macron apóiam ou têm simpatia pelo movimento”.
Como indicaram manifestantes entrevistados durante as manifestações que entraram pela segunda-feira com bloqueios à saída de refinarias, a crise política na França se expressa na generalização de uma percepção de que as chamadas “medidas impopulares” acontecem para colocar em primeiro plano recursos para pagar bancos, de tal forma que a imagem de Macron com um jovem tecnocrata eficiente e distante dos políticos tradicionais se esboroa.
Conforme as mais recentes pesquisas, o índice de popularidade de Macron despencou, chegando próximo aos 30%, o menor nível desde sua eleição em 2017.