Dezenas de milhares de franceses participaram neste sábado (5) de uma nova jornada de protestos – a oitava – contra a política econômica e insensibilidade social de Emmanuel Macron e em repúdio à prisão de Eric Drouet, um dos líderes das mobilizações encabeçadas pelos ‘coletes amarelos’. A primeira manifestação deste ano aconteceu em várias cidades do país, como Paris, Marselha, Montpellier, Nantes, Rouen, Caen, Le Mans e Avignon.
“Viremos aqui todos os sábados, continuaremos em 2019 inteiro”, prometeu Sophie, uma das manifestantes, discursando com um megafone na Avenida Champs-Élysées, na capital, onde as manifestações começaram pacificamente .
Logo após as 14.00 (hora local), as pessoas se agruparam entre o Ajuntamento e a Assembleia Nacional, sendo reprimidas por efetivos policiais que atacaram a coluna humana com gás lacrimogêneo, com um saldo de várias barricadas armadas nas ruas de Paris. Alguns cantavam o hino nacional “La Marseillaise”, outros portavam faixas exigindo “Macron, renuncie!” e “Acabe com os privilégios da elite”.
Em Nantes (oeste), a manifestação, que reuniu milhares de pessoas, também resultou em confrontos, inclusive uso de granadas pela polícia. Pelo menos uma pessoa ficou ferida.
Em Rouen (noroeste), a polícia disparou também bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, atingindo um manifestante na parte posterior da cabeça
MONTPELLIER E BORDEAUX
Em Montpellier (sudeste), quatro membros da polícia ficaram levemente feridos devido ao lançamento de pedras e garrafas pelos “coletes amarelos”, segundo autoridades regionais.
Com uma faixa que dizia “Unidos, a mudança é possível”, cerca de 5.000 “coletes amarelos” desfilaram em Bordeaux em calma, sem confrontos com as forças de segurança.
Em Toulouse, os manifestantes foram muitos mais que no sábado passado, segundo os organizadores.
Milhares de “coletes amarelos” também bloquearam em ambas as direções a estrada A7 que atravessa a cidade de Lyon (centro-leste), gerando engarrafamentos na volta das festas de fim de ano.
Desde o início do movimento cerca de 1.500 manifestantes ficaram feridos, entre os quais 53 gravemente. Outros 1.100 saíram feridos entre as forças de segurança. Além disso, dez pessoas morreram, principalmente em acidentes nos bloqueios de estradas.
O movimento teve início em 17 de novembro passado após o presidente Macron ter anunciado um “imposto ecológico” sobre o diesel, que todos usam, e que tivera aumento de 23% em 12 meses. As exigências de corte nos impostos logo se estenderam à denúncia do congelamento nos salários e da redução nas aposentadorias. As centrais sindicais se somaram. A renúncia do presidente passou a ser exigência constante nas ruas da França.
Na quinta-feira (3), o coletivo dos “coletes amarelos” divulgou uma carta intitulada “França em cólera” que mostra que, apesar da repressão, as vozes críticas estão longe de se calarem: “A raiva vai se transformar em ódio se você continuar no seu pedestal, você e aqueles que como você consideram o povo como mendigos, desdentados”, afirmam na carta, frisando que as “consultas nacionais” anunciadas pelo presidente no fim do mês de novembro são “uma armadilha política”, que têm como objetivo esquivar as discussões sobre o direito de realizar “referendos de iniciativa cidadã”.
No documento, os ‘coletes amarelos’ expuseram as seguintes exigências: “Restaurar a soberania do povo da França mediante a implementação do Referendo de Iniciativa Cidadã (RIC) em todos os assuntos, mas também na implementação de uma redução significativa de todos os impostos sobre bens essenciais e uma redução significativa em todas as pensões, salários, e privilégios dos funcionários estatais eleitos e superiores”.
Desde o início dos protestos os manifestantes adotaram como símbolo a veste fosforescente obrigatória nos veículos, imposta pela Comunidade Europeia em 2008. A revolta rapidamente evoluiu para a denúncia do arrocho e para exigir a renúncia de Macron e criação do mecanismo de iniciativa cidadã de convocação de referendos.
Tentando desmobilizar os protestos, Macron fez aprovar no parlamento, que ele controla, medidas paliativas contra o arrocho – tipo o aumento de 100 euros no salário mínimo -, depois de ter revogado a contragosto o aumento do ‘imposto ecológico’ sobre o diesel. Estudantes, aposentados e centrais sindicais engrossaram os protestos, numa convergência de lutas populares que ameaça o próximo passo de Macron – piorar a já infame reforma da Previdência de Sarkozy de 2012.
SUSANA LISCHINSKY