
[Frantz Fanon nasceu na Martinica em 20 de julho de 1925. Estaria, portanto, se estivesse vivo, completando 100 anos no dia de hoje. Infelizmente, ele morreu em 6 de dezembro de 1961, de leucemia, em Bethesda, EUA. Foi um dos homens mais notáveis de sua época, médico, psiquiatra, combatente da Frente de Libertação Nacional da Argélia (FLN), autor de Pele Negra, Máscaras Brancas (1952) e Les Damnés de la Terre (1961). Em sua homenagem, reproduzimos algumas notas extraídas da coletânea Em Defesa da Revolução Africana, publicada pela primeira vez em francês pela François Maspero, em 1969, traduzida para o português por Isabel Pascoal e publicada pela Livraria Sá da Costa Editora em 1980.]
FRANTZ FANON
No interior de uma nação é clássico e banal identificar duas forças antagônicas: a classe operária e o capitalismo burguês. No país colonial esta distinção revela-se totalmente inadequada. O que define a situação colonial é bem mais o caráter indiferenciado que a dominação estrangeira apresenta. A situação colonial é em primeiro lugar uma conquista militar continuada e reforçada por uma administração civil e policial. Na Argélia, como em qualquer colônia, o opressor estrangeiro opõe-se ao autóctone como limite da sua dignidade, e define-se como contestação irredutível da existência nacional.
O termo “colonialismo”, criado pelo opressor, é demasiado afetivo, demasiado emocional. É situar um problema nacional num plano psicológico. Por isso, no espírito destes democratas, o contrário de colonialismo não é de modo nenhum o reconhecimento do direito dos povos de dispor de si próprios, mas a necessidade à escala individual de comportamentos menos racistas, mais abertos, mais liberais.
O colonialismo não é um tipo de relações individuais, mas a conquista de um território nacional e a opressão de um povo; é tudo. Não é um certo comportamento humano ou uma modalidade de relações entre indivíduos. Atualmente, todo o francês na Argélia é um soldado inimigo. Enquanto a Argélia não for independente, é preciso aceitar esta consequência lógica.
Miséria de todos os colonizados, terrivelmente agravada por um racismo odioso, talvez a mais cruel sequela da escravatura, que opôs entre si brancos, negros e também mulatos.
Nenhuma morte de homem é indispensável ao triunfo da liberdade. Acontece que é preciso aceitar o risco da morte para que nasça a liberdade, mas não é com o coração alegre que se assiste a tantos massacres e a tantas ignomínias.
A FLN não pretende realizar uma descolonização da Argélia ou um abrandamento das estruturas opressivas. (…) O que a FLN reclama é a independência da Argélia. Uma independência que permita ao povo argelino tomar totalmente o seu destino nas mãos.
Nenhum empreendimento espetacular nos fará esquecer o racismo legal, o analfabetismo, o servilismo suscitado e alimentado no mais profundo da consciência do nosso povo.
O povo colonialista não se curará do seu racismo e da sua doença espiritual se não aceitar realmente considerar a antiga possessão como uma nação absolutamente independente.
O combate pela dignidade nacional dá à luta pelo pão e pela dignidade social a sua verdadeira significação.
A hesitação no assassínio nunca caracterizou o imperialismo.
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