Depois de garantir uma sobrevida ao governo ultradireitista com a promessa de ajuda de US$ 20 bilhões, a “ajuda”encolheu e virou empréstimo de “curto prazo” de US$ 5 bi
Apenas algumas semanas após garantir uma sobrevida ao presidente Javier Milei nas eleições de meio de mandato em 26 de de outubro, Donald Trump rompe com a palavra e corta 75% do empréstimo de US$ 20 bilhões prometido aos argentinos. Nesta sexta-feira (21) os quatro maiores bancos dos Estados Unidos reconheceram que por trás da tão propalada estabilidade política, há uma economia real que expõe toda a fragilidade da situação financeira do país sul-americano.
Como noticiou o Wall Street Journal, bancos como o JP Morgan Chase, Bank of America e Citigroup suspenderam o apoio aos argentinos e avaliam agora um empréstimo de “curto prazo” de aproximadamente US$ 5 bilhões. A mudança no comportamento era previsível e ocorre em um momento em que o governo ultradireitista tenta vender uma imagem de “estabilidade” da sua política de subserviência aos interesses externos, propagandeada à exaustão pelos grandes meios de comunicação.
O fato é que Milei só logrou se manter no poder – ainda que momentaneamente, driblando a corda bamba da crise cambial e o festival bomba de denúncias de corrupção – pelo resgate do governo Trump. Um socorro que incluiu a chantagem aberta de que deixaria a Argentina quebrar se os eleitores não votassem na motosserra neoliberal. E isso tudo, vale lembrar, a tão somente dois dias antes da votação. Uma encenação respaldada por uma caravana encabeçada pelo executivo-chefe do JP Morgan, Jamie Dimon, mais Condoleeza Rice (ex-secretária de Estado), um especulador dos Emirados Árabes e Tony Blair, em Buenos Aires para acenar com supostos mais US$ 20 bilhões de bancos e fundos privados internacionais.
O próprio CEO do JP Morgan, Jamie Dimon, havia previsto no início do mês que o grande empréstimo “talvez não fosse necessário”, em consonância com sua avaliação positiva das reformas econômicas implementadas pelo governo Milei. Contudo, o contexto internacional, a cautela dos bancos e a fragilidade da macroeconomia local acabaram por inclinar a balança para a realidade.
CRESCIMENTO DE 40% NO SUPERÁVIT PRIMÁRIO ESFOLA OS ARGENTINOS
O Ministério da Economia da Argentina anunciou que o país fechou julho com superávit primário de 1,75 trilhão de pesos (cerca de US$ 1,27 bilhão), alcançando o sétimo mês consecutivo de saldo positivo em 2025, um crescimento de 40% em termos reais superior ao do ano passado. Explicitando a submissão ao Fundo Monetário Internacional (FMI), o ministro Luis Caputo, comemorou o corte de investimentos nas áreas sociais, como saúde e educação, com “o fim do regime estatista”.
Apesar de toda esta extorsão, o Departamento do Tesouro dos EUA anunciou que, em meados de outubro, ainda precisou transferir US$ 872 milhões em Direitos Especiais de Saque (DES) para a Argentina cumprir seu último pagamento ao FMI.
Diante dos burburinhos em torno dos problemas que continuam se acumulando no financiamento externo, Luis Caputo negou que o governo tivesse negociado um resgate de US$ 20 bilhões com bancos dos EUA e mentiu dizendo que “um resgate nunca foi discutido”, tentando apagar a memória dos argentinos. Segundo o ministro, a disseminação desses rumores fariam parte de “uma operação para semear confusão”. Mas foi o presidente dos EUA quem declarou ao receber Milei na Casa Branca: “Estamos aqui para dar a você o apoio que precisa para as próximas eleições. Se perder, não seremos generosos com a Argentina”.
“ARGENTINA WEEK”
Em meio ao festival de reveses, Milei compartilhou uma espécie de prêmio de consolação em suas redes sociais: o “Argentina Week” em Nova York. De acordo com o Página12, o evento será patrocinado pelo JP Morgan – um dos bancos que rejeitou o empréstimo privado ao país – e pelo governo nacional, que conta com sete ex-funcionários dessa instituição financeira, incluindo o ministro Luis Caputo e o embaixador Pablo Quirno.
“Milei republicou um tweet do embaixador argentino nos Estados Unidos, Alec Oxenford, responsável pelo anúncio do evento empresarial, que acontecerá entre os dias 9 e 11 de março – mais uma ótima desculpa para o presidente revisitar seu país favorito. Ele optou por destacar outro aspecto da relação com os bancos americanos”, informou o jornal.
Caso se livre do impeachment até lá, Milei utilizaria a sua foto em Nova Iorque como mensagem política de respiro para o mundo exterior, sem dissipar as dúvidas que se acumulam sobre a sustentabilidade do plano econômico de um governo que tem o seu roteiro traçado por uma ponte financeira que desaba em meio a vencimentos de curto prazo e a um povo que tem ido às ruas cada vez mais carente de empregos, salários e direitos.











