Frei Leonardo Boff escreveu, em seu blog, que “correm pelas redes sociais críticas que teria feito a Lula. Elas são falsas. (…) O que fiz foi publicar um artigo de Carla Jiménez no jornal espanhol El Pais que leva como o título: ‘Uma elite amoral e mesquinha se revela nas delações da Odebrecht’. (…) Fiz uma introdução bastante longa ao artigo e depois o transcrevi. Pessoas mal intencionadas tomaram aquele tópico crítico a Lula e o atribuíram a mim como se eu tivesse escrito tal coisa”.
Na primeira parte de nosso artigo “Mentiras que dão nojo: Lula, as propinas da Odebrecht e o longo braço da lei“ (v. a edição anterior do HP), reproduzimos o essencial da “longa introdução” de frei Leonardo Boff ao artigo de El País. Aliás, nem mencionamos o artigo, pois nele não há novidade. O que existe de interessante é o ponto de vista do insigne prelado.
Porém, já que frei Boff, em seu desmentido, não reproduziu a sua introdução na íntegra, sentimo-nos na obrigação de fazê-lo, para dar ao leitor melhores condições de fazer juízo da questão.
Escreveu frei Leonardo Boff, no último dia 21:
“Precisava vir alguém de fora, de uma jornalista Carla Jiménez do jornal espanhol El Pais (17/04/2017) para nos dizer as verdades que precisamos ouvir. Seguramente a grande maioria concorda com o conteúdo e os termos desta catilinária contra corruptos e corruptores que tem caracterizado nos últimos tempos o Brasil. Formou-se entre nós, praticamente, uma sociedade de ladrões e de bandidos que assaltaram o país, deixando milhões de vítimas, gente humilde do povo, sem saúde, sem escola, sem casa, sem trabalho e sem espaços de encontro e lazer. E o pior, sem esperança de que esse rumo possa facilmente ser mudado. Mas tem que mudar e vai mudar. É crime demasiado. Nenhuma sociedade minimamente humana e honesta pode sobreviver com semelhante câncer que vai corroendo as forças vitais de um nação.
“Enganam-se aqueles que eu, pelo fato de defender as políticas sociais que beneficiaram milhões de excluídos, realizadas pelos dois governos anteriores, do PT e de seus aliados, tenha defendido o partido. A mim não interessa o partido mas a causa dos empobrecidos que constituem o eixo fundamental da Teologia da Libertação, a opção pelos pobres contra a pobreza e pela justiça social, causa essa tão decididamente assumida pelo Papa Francisco.
“É isso que conta e por tal causa lutarei a vida inteira como cristão e cidadão. Estou convencido de que o Brasil poderá ser, quando bem governado, a mesa posta para as fomes e sedes do mundo inteiro. Creio que a revelação de tais crimes, sua punição, o resgate dos bilhões de reais ou de dólares roubados e devolvidos aos cofres públicos, nos deem duras lições. Que todos vigiemos para que nunca se esqueça e nunca mais aconteça”.
Em seu desmentido, três dias após ter publicado as palavras acima, frei Boff diz que “corrupção existe também nas mentes de pessoas interessadas em desfazer a imagem do outro atribuindo-lhe coisas que não disse e não fez”.
É verdade. Não existe nada mais corrupto que a mente de Caifás – ou a covardia de Pilatos. Como disse um autor que frei Boff deve conhecer:
“Os escribas e os fariseus atam fardos pesados e esmagadores e com eles sobrecarregam os ombros dos homens, mas não querem movê-los sequer com o dedo. Fazem todas as suas ações para serem vistos pelos homens, por isso trazem largas faixas e longas franjas nos seus mantos. Gostam dos primeiros lugares nos banquetes e das primeiras cadeiras nas sinagogas. Gostam de ser saudados nas praças públicas e de ser chamados rabi pelos homens.
“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Vós fechais aos homens o Reino dos céus. Vós mesmos não entrais e nem deixais que entrem os que querem entrar.
“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Devorais as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso, sereis castigados com muito maior rigor.
“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Percorreis mares e terras para fazer um prosélito e, quando o conseguis, fazeis dele um filho do inferno duas vezes pior que vós mesmos.
“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia, a fidelidade.
“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Limpais por fora o copo e o prato e por dentro estais cheios de roubo e de intemperança.
“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão.
“Testemunhais assim contra vós mesmos que sois de fato os filhos dos assassinos dos profetas.
“Serpentes! Raça de víboras! Como escapareis ao castigo do inferno?”
C.L.
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