O presidente do Cidadania23, o ex-ministro, ex-deputado federal e ex-senador Roberto Freire, afirmou que Bolsonaro é “inepto” e coloca a democracia em xeque.
Para Roberto Freire, os esforços da oposição devem estar voltados “à construção de polos de defesa das instituições democráticas, dos fundamentos da democracia”.
“No momento, temos que evitar a polarização [bolsonaristas X petistas] e garantir o funcionamento democrático do país, das instituições e das liberdades”, frisou.
Freire sustenta que o PT liderar a oposição apenas fortalece o campo bolsonarista.
“Temos que trabalhar com uma outra esquerda, a esquerda democrática, empenhada em discutir a democracia. O lulopetismo só ajuda a alimentar o bolsonarismo. Não há coisa que o Bolsonaro mais deseje do que a permanência dessa dicotomia lulopetistas versus bolsonaristas”, disse em entrevista para o Jornal do Comércio, de Porto Alegre (RS).
Muitas “pessoas pensam que a esquerda brasileira é ‘Lula livre’. Não podemos imaginar que essa esquerda vai nos ajudar a enfrentar a questão democrática que está sendo colocada em xeque pelo governo Bolsonaro”, continuou.
“Temos que enfrentar, inclusive, retrocessos do ponto de vista cultural, motivados por conta do fundamentalismo religioso, muito vinculados a essa visão de extrema-direita e do próprio Bolsonaro”.
Roberto Freire afirmou que Bolsonaro é “um presidente inepto. Ele cria mais problemas do que qualquer oposição que quisesse atrapalhar o governo. Não passa um dia sem que ele descubra algum adversário, algum inimigo. Até porque, se ele não descobre, inventa um”.
“É um presidente que, em vez de cuidar de governar, cuida de falar. Isso não acontece apenas por um cacoete da sua personalidade. Também é algo característico da extrema-direita mundial, que acredita que é o momento de destruir o establishment político, que teria sido dominado por um novo espectro do comunismo. É um pensamento reacionário, uma visão anacrônica, meio medieval até”, acrescentou.
Na entrevista, Freire criticou a política e a postura de Bolsonaro na questão ambiental.
“Todas as intervenções na área do meio ambiente são contra aos interesses nacionais. Por exemplo, o que o agronegócio brasileiro ganha com toda essa disputa com o presidente francês [Emmanuel Macron]?”.
“É claro que a Amazônia é parte do território brasileiro, é patrimônio nosso. Mas é uma questão que não pode ser tratada como se todos os outros fossem nossos inimigos, como se houvesse uma conspiração. Isso é típico de alguém que busca um inimigo externo para acalmar as dificuldades internas”, disse.
No começo de agosto, quando os dados que apontavam o aumento das queimadas na região amazônica começaram a surgir, Bolsonaro decidiu por demitir o então presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, e acusá-lo de estar a serviço de ONGs internacionais.
Com 31 mil focos de incêndio, agosto foi o mês com mais queimadas desde 2010, de acordo com os dados do Inpe.
Além disso, Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, trataram de ofender a esposa do presidente francês gratuitamente. Em um comentário em seu Facebook que comparava as esposas de Bolsonaro e de Macron, Jair respondeu “Não humilha cara. Kkkkkkk”. Mais tarde, Guedes veio a público dizer que Brigitte Macron “é feia mesmo”.
No campo econômico, Freire criticou os projetos de reforma tributária em tramitação no Congresso. “Nenhum dos projetos trata com a devida seriedade a questão do Imposto de Renda. Na verdade, são praticamente omissos nessa questão. Por isso, o Cidadania vai apresentar um projeto sobre o IR, que pode ser acoplado a qualquer um dos projetos de reforma tributária que tramitam no Parlamento. O IR é um dos impostos mais injustos que temos no Brasil”, enfatizou.
“Porque [o IR] é profundamente regressivo. Quem paga mais imposto no país são aqueles de menor renda. A isenção de imposto é muito baixa. Do ponto de vista da alíquota, aqueles que recebem os salários médios estão pagando a mesma coisa que aqueles que recebem os maiores salários. Por exemplo, a renda mensal de R$ 7 mil paga a mesma alíquota que todos os salários maiores que isso. Isso é um absurdo. Aí surgem ideias como, por exemplo, criar um imposto sobre grandes fortunas. Não precisa disso. Basta ter um imposto maior sobre as mais altas rendas, o que não existe no país”, analisou.