O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, afirmou que esse “negócio de fritura é coisa de gente desqualificada”
“Fico até constrangido de falar, esse negócio de fritura é coisa de gente desqualificada, da escória política. A mim nunca afetou pessoalmente, mas acredito que houve, sim”, disse o militar, referindo-se ao processo de sua demissão do governo, sofrendo ataques e calúnias dos bolsonaristas.
Santos Cruz, que ficou no governo por quase seis meses, disse, em entrevista ao UOL e à Folha de S. Paulo, que o grupo de seguidores do astrólogo e auto-declarado filósofo Olavo de Carvalho, o guru dos Bolsonaros, não permite que haja paz com quem pensa diferente deles.
Segundo Santos Cruz, o grupo de olavistas “é pequeno, mas faz um escândalo muito grande” e tem uma “influência muito grande” no governo. “Ele não traz paz ao sistema, ele se comporta como se fosse haver uma eleição na semana que vem”, contou.
“Esse cidadão [Olavo de Carvalho], que não mora no Brasil, mora fora há muitos anos, é um fenômeno de influência em algumas pessoas. Eu acho que ele tem uma influência sobre um grupo específico, e esse grupo se comporta muito como uma seita, com um raciocínio binário, onde quem não é da minha seita é meu inimigo. Ou é amigo ou é inimigo, se você discordar de qualquer coisa, então você é meu inimigo”.
“É um raciocínio simplista, binário, de amigo ou inimigo. O país não pode viver assim”.
O general acredita que Bolsonaro teria sérios prejuízos políticos ao esvaziar o ministério da Justiça, chefiado pelo ex-juiz Sérgio Moro.
Apesar da submissão de Moro, que se manteve calado sobre os escândalos de corrupção na família Bolsonaro e sobre a retirada do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de combate à corrupção, de suas mãos e passando-o para Paulo Guedes, Bolsonaro insiste em esvaziar o ministério de Moro.
Recentemente, expôs suas intenções de recriar o Ministério da Segurança, tirando a função de Moro. Depois, aparentemente, recuou.
“É uma coisa descabida em termos de administração. Separar o ministério aqui ou ali, isso aí uma decisão política que pode ter prejuízo político, ou não”.
Moro “é uma pessoa com prestígio fantástico na sociedade brasileira. Então, qualquer modificação nas atribuições vai ter um custo político muito, muito alto”.
POLÍTICA EXTERNA
Na entrevista, o general criticou a política externa de submissão aos Estados Unidos e a Trump.
O ex-ministro avaliou que o Brasil está perdendo com a política externa de Bolsonaro de bajulação a Donald Trump. “Sempre quem perde é quem se alinha automaticamente, em qualquer situação. Os EUA são um país com a liderança em muitas coisas, mas eles têm os interesses deles. A política norte-americana é baseada nos interesses dos Estados Unidos”, disse.
“O Brasil tem uma tradição do Itamaraty onde você não votava por alinhamento ideológico, mas por princípios de não tomar esse tipo de medida, ou de não dar liberdade pra ninguém tomar esse tipo de medida, seja contra quem for. Era um posicionamento que se tinha que foi quebrado”, continuou.
“E foi quebrado por poucos países, EUA, Israel, Ucrânia e Brasil”. Para ele, o fato de poucos países sustentarem os desejos de Donald Trump, como o de manter o embargo econômico contra Cuba – apenas Brasil, EUA e Israel votaram pela manutenção do embargo, contra 197 países -, já é sinal de que há algo errado.
MILITARES NO INSS
O general também criticou o plano de Bolsonaro de colocar militares para trabalhar no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) depois do caos instaurado pela falta de recursos e de pessoal.
“Os militares do mundo inteiro atuam quando acontecem desastres, mas no caso do INSS é um caso administrativo, que não tem nada a ver com catástrofe. Você tem dentro do INSS pessoas que são capazes de resolver a situação. Você tem que ouvir o INSS, tem que valorizar o INSS”.
“Se chamar os militares, você vai ter que treinar, eles não são treinados para isso. Não vejo o militar como solução para tudo”, disse.
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