
O brasileiro Thiago D’Ávila, coordenador da frota humanitária estava a bordo do navio Conscience quando este foi atingido às 00:23, desta sexta-feira (2), por ataque de drones. O barco estava em águas internacionais a 25 quilômetros da ilha de Malta quando o ataque provocou incêndio já debelado
A imprensa de Malta noticia que um avião israelense seguiu o navio por horas, antes do ataque com drones.
“O navio podia ter afundado e quatro dos ativistas a bordo ficaram feridos”, denuncia Thiago
O arcebispo de Malta, Charles Scicluna, condenou o ataque com drones, “com a intenção de afundá-lo”, como “flagrante agressão”.
“O ataque em águas internacionais, perto de Malta, foi um flagrante ato de agressão contra vidas inocentes e propriedade de organizações humanitárias, que viola a decência humana mais básica e mostra um claro desdém pelos princípios básicos da Lei Internacional”, declarou o arcebispo.
“Os seus perpetradores tinham a clara intenção de afundar um navio trazendo ajuda à população faminta de Gaza e mandam uma aterrorizante mensagem de que ajuda humanitária não é benvinda”, finalizou o arcebispo Scicluna.
Reproduzimos a seguir entrevista de Thiago Ávila, divulgada através do Instagram e por nós transcrita, sobre o criminoso ataque e apelo aos governos a prestarem apoio aos barcos que singram rumo a Gaza para que evitem risco de vida aos ativistas solidários ao povo palestino a bordo
NB
“Estamos em águas internacionais no Mar Mediterrrâneo. O que você está vendo ali é o barco Conscience, atacado nessa madrugada quando levava alimentos rumo a Gaza”, diz o coordenador internacional da missão da Flotilha da Liberdade, no vídeo enquanto aponta para o navio atacado. Ele o faz a partir de um barco nas proximidades.
“Nós somos parte de uma missão que envolve mais de 90 pessoas de mais de 20 países, com alimentos e medicamentos para furar o cerco de Gaza”, prossegue Thiago Ávila.
“Estamos hoje, há 58 dias sem que Gaza receba uma única garrafa de água, um único carregamento de arroz ou de farinha.
“Gaza está sob 573 dias de uma escalada de genocídio, vivendo sob cerco ilegal há 18 anos, vivendo sob ocupação militar desde 1967, e vivendo sob o crime de limpeza étnica, que atinge todo o povo palestino, desde 1947.
“Estamos aqui, neste barco, em 23 pessoas de 13 países diferentes para dizer que este ataque que aconteceu ontem com dois drones tentando afundar este navio, tentando impedir a ajuda humanitária de chegar a Gaza é um ato de violação ao Direito Internacional.
“É um crime de guerra. Um ato não provocado contra uma ação não violenta, uma ação humanitária que deseja realizar aquilo que os tratados internacionais mandam, que a Carta da ONU e o Conselho de Segurança das Nações Unidas determinaram.
“Colocando em prática o que definiu a Corte Internacional de Justiça ao examinar o genocídio que Israel pratica contra o povo palestino e dá recado claro a Netanyahu para parar de proibir a entrada de ajuda humanitária a Gaza.
“O que vimos hoje foi mais um ataque à Flotilha da Liberdade. Quinze anos atrás, 10 pessoas foram assassinadas em outra missão da Flotilha. Ainda bem que dessa vez não morreu ninguém. Quatro pessoas tiveram ferimentos leves. O fogo foi apagado e estamos avaliando o que fazer.
“Estamos aqui no Mediterrâneo”, continua Thiago, “até agora nenhum governo por aqui estendeu a mão amigável a nós. Pedimos apoio para que as pessoas desta missão possam seguir em segurança, para evitar que sejamos atacados novamente e para que consigamos garantir que esta ajuda humanitária chegue em Gaza. A prioridade é simplesmente essa”.
“Toda vez que as pessoas falam que a Flotilha é uma ação corajosa, a gente diz: Não é nem uma fração da coragem do povo palestino”.
“Toda vez que as pessoas dizem que a gente enfrenta um risco muito grande, dizemos que, de fato, é um risco muito grande enfrentar o poder destrutivo e o ódio israelense.
“Enfrentar o seu total afastamento e negação dos direitos humanos e do zelo pela preservação da vida das pessoas.
“É um risco que corremos, mas é uma fração do risco sofrido pelo povo palestino sob limpeza étnica e genocídio.
“Importante a divulgação e a denúncia de atos como esse ataque, que exerçamos pressão pelo rompimento de relações com Israel, que os indiferentes parem com a cumplicidade com o massacre, para deter o genocídio que é a tarefa mais importante da nossa geração”.
“Povos do mundo estão tentando fazer o que os governos ainda resistem em fazer, que é deter o genocídio acabar com essa fome em Gaza.
“Enquanto governos infelizmente ainda falham, nós navegamos.
“Não abandonaremos o povo palestino. Vamos nazegar até que este povo seja livre da mais cruel e sangrenta ditadura naquela região”.
A comissária da ONU para a Palestina, Francesca Albanese, condenou o ataque assim que foi informada da agressão:
“Emergência: Recebi o tenso chamado das pessoas da FlotiIha da Liberdade que levam alimento e medicamentos essenciais à população faminta de Gaza. Eu conclamo todas as autoridades de Estado concernentes, incluindo autoridades marítimas, a apoiarem o navio e sua tripulação como se faz necessário. Eu confio que as autoridades competentes vão garantir o conhecimento dos fatos e intervirão de maneira apropriada”.
Veja o vídeo com o ataque na madrugada:
Poucas horas depois dessa entrevista gravada, Thiago deu uma nova, apelando ao governo de Malta que deixe passar ao porto os navios da frota sob risco de novo ataque:
“Este aqui é Thiago do Comitê da Flotilha da Liberdade em missão humanitária a Gaza. Toda a tripulação do barco Conscience aguardam para chegar a um porto seguro, após o ataque. Quais são as últimas informações?”, pergunta a entrevistadora.
“Estamos próximos ao barco Conscience, tentando garantir a assistência que a tripulação e delegados necessitam. Mas, fomos impedidos de voltar ao barco depois de conversar com o pessoal da Guarda Costeira.
“Está anoitecendo e estamos muito preocupados que aconteça um novo ataque. Estamos solicitando que o governo maltês haja com urgência, que forneça uma passagem segura para que o barco Conscience entre nas águas territoriais de Malta. Que cessem o bloqueio à passagem do barco pela Guarda Costeira para que não sejamos novamente atacados por aqueles drones.
“Nossa tripulação e participantes da missão escapamos por milagre, por pouco o navio não afundou e não se pode permitir que isto volte a acontecer.
“Então torna-se muito urgente que se pressione o governo de Malta que pare de barrar o Concience de entrar no porto de Malta e que este governo nos dê toda a assistência que o navio necessita, nesta situação em que houve um ataque a um barco civil com ajuda humanitária que precisa chegar em Gaza”.
Veja o vídeo com a entrevista de Thiago:
https://www.instagram.com/reel/DJKPvcdRciV/?utm_source=ig_web_copy_link
Pouco depois de finalizarmos esta matéria, fomos informados que Greta Thurnberg, junto com um grupo de ativistas pelos direitos humanos, chegou até o navio Conscience e, junto com os integrantes da missão a Gaza, se saudaram mutuamente aos gritos de “Palestina Livre!”. Veja o vídeo: