
Nesta terça-feira (25), os trabalhadores da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) protestaram em frente à B3, a Bolsa de Valores do Brasil, no centro de São Paulo, contra a privatização das linhas 11-Coral, 12-Safira e 13-Jade.
O cronograma das privatizações, realizadas pelo governo de Tarcisio de Freitas (Republicanos), prevê a entrega dos envelopes com as propostas das empresas concorrentes, nesta terça e a abertura dos documentos e o anúncio da empresa vencedora, na sexta-feira (28). Vence aquela que apresentar o maior deságio, ou seja, a diferença entre os valores de mercado e aquele pelo qual o bem é arrematado.
A mobilização foi um esquenta para a paralisação dos trabalhadores que começa à meia noite desta quarta-feira (26) nas linhas 7-Rubi, 10-Turquesa, 11-Coral, 12-Safira e 13-Jade. Até o momento, o movimento dos trabalhadores não informou um horário para a greve acabar e afirmou ainda que não aceitará demissões. Em caso de desligamentos, a paralisação continuará.
Segundo Fernando Ricardo Santos das Costa, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Central do Brasil, o protesto foi convocado para “demonstrar indignação dos trabalhadores com o poder público”. “O governo do estado prefere enfiar mais dinheiro na mão da iniciativa privada, por exemplo, do que investir em uma empresa pública”, disse Costa em declaração ao portal Brasil de Fato.
“Hoje a CPTM, por exemplo, tem um intervalo médio de cinco minutos e meio entre um trem e outro, no horário de pico, sentido Calmon Viana ou Itaquaquecetuba. Quem vai para lá espera só cinco minutos e meio. Há 20 anos, eram 20 minutos de intervalo. Isso significa que, com investimento, a empresa pública conseguiu evoluir melhorando o serviço”, disse Fernando.
Em comparação com as linhas privatizadas, Costa afirma que nas linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, já privatizadas e operadas pela empresa ViaMobilidade, o tempo médio de espera é de 15 minutos. “Ou seja, a iniciativa privada assumiu uma linha que estava operando 6 minutos de intervalo e ela não conseguiu atender essa demanda”, continuou.
“Eles estão assumindo para ganhar dinheiro, única e exclusivamente, fazer lucro, e não para investir e melhorar o serviço. Então os ferroviários ainda da CPTM são contra a privatização da empresa porque o serviço não vai melhorar. Ninguém está discutindo se é porque está dando dinheiro ou não. É porque não melhora”, concluiu o dirigente.
Além de representantes de trabalhadores da CPTM, estiveram presentes metroviários em apoio à manifestação. Narciso Soares, vice-presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, classificou a privatização das linhas da CPTM como um “ataque do Tarcísio que pode afetar muito a população e trazer dinheiro para os grandes milionários deste país”, disse.
SUCATEAMENTO
“Inclusive, as estatais estão sendo pioradas para privatizar mais. Essa política, infelizmente também com o apoio do Lula pelo BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], está financiando essas privatizações e está atacando a população. Então, todo o apoio à luta dos companheiros ferroviários. Vamos conversar com a população que tem que apoiar essa luta, porque essa luta é de toda a população contra esse desmonte, é da classe trabalhadora, contra esse trânsito milionário e quem governa para ela”, afirmou Soares.
No ano passado, o governador de São Paulo, Tarcísio, privatizou a construção do Trem Intercidades Eixo Norte (TIC), ligando São Paulo a Campinas, e a Linha 7-Rubi da CPTM. O governo paulista entrará no projeto do TIC com aporte de cerca de R$ 9 bilhões, dos quais R$ 6,4 bilhões serão financiados pelo BNDES. Isso porque o governo federal incluiu a obra no Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
A gestão de Tarcísio, que já privatizou a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), pretende agora efetivar uma concessão de 25 anos das linhas da CPTM para a iniciativa privada, com previsão de investimentos de R$ 14,3 bilhões. A decisão dos trabalhadores é de manter a greve até que haja uma garantia por escrito do governador Tarcísio de cancelamento do leilão.
As linhas que a gestão Tarcísio pretende privatizar conectam o centro de São Paulo com a Zona Leste e cidades da região metropolitana, entre as quais Mogi das Cruzes, Suzano e Guarulhos. Cerca de 4,6 milhões de pessoas vivem nos territórios atendidos por estas linhas. De acordo com a Secretaria de Parcerias em Investimentos (SPI), três grupos demonstraram interesse no empreendimento.