“O ministro afirmou que ‘quem pergunta demais descobre o que não quer’. Não sabemos ao certo o que o Ministro não quer ‘descobrir’” – ASSIBGE
Em seu discurso na posse da nova presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que um dos progressos que a privatização trouxe ao Brasil é a facilidade com que se passou a contratar prostitutas – e a facilidade com que as prostitutas se comunicam com seus fregueses:
“Lembrem-se que telefone era meio de luxo. Privatizamos, e entregador de pizza, todo mundo hoje tem telefone. Prostituta… Todo mundo marca seus programas pelos meios digitais. É progresso para todo mundo.”
Guedes recomendou a redução do Censo Demográfico, marcado para 2020: “Se perguntar demais você vai acabar descobrindo coisas que nem queria saber”.
O ministro de Bolsonaro aconselhou o IBGE a vender os prédios em que funciona para conseguir dinheiro para o Censo:
“Falta dinheiro para o Censo, mas o presidente fica de frente para o Pão de Açúcar, a diretoria fica no centro e a turma da ralação fica aqui [no Maracanã, onde se localiza o Centro de Documentação e Disseminação de Informações do IBGE]. Devia todo mundo estar junto em um prédio só. Ou quem sabe a gente vende os prédios e bota dinheiro para complementar para fazer o Censo bem feito. Esse é um desafio. Devia todo mundo estar junto em um só prédio, provavelmente na Avenida Chile. Tem que acabar com o privilégio e acabar com a vista para o mar do presidente. Nós precisamos tentar avançar, vou pedir o desafio da gestão: façam o auto sacrifício, vendam o seu prédio.”
O discurso de Guedes foi uma resposta ao da nova presidente, que afirmara: “Nos últimos anos, o Instituto perdeu mais de 30% do seu quadro de pessoal e corre o risco de perder mais 30% com os aposentáveis, tudo isso a menos de um ano para o maior desafio do IBGE, que é o Censo Demográfico” – e destacara a dedicação dos funcionários: “O que mais me impressionou foi o espírito do ibegeano. Ele é contagiante. Eu vivenciei o brilho nos olhos desses servidores que vestem a camisa”.
Sobre as declarações de Guedes, a Associação dos Trabalhadores do IBGE – Sindicato Nacional (ASSIBGE-SN) emitiu a nota abaixo, que publicamos na íntegra.
C.L.
Nota a respeito das declarações do ministro Paulo Guedes sobre o IBGE:
A ASSIBGE-SN, entidade representativa dos servidores do IBGE, vem a público lamentar as declarações do Ministro da Economia, Paulo Guedes, que sugeriu drástica redução das informações a serem coletadas pelo Censo Demográfico 2020, sob alegada necessidade de redução de gastos.
O Ministro afirmou que “países ricos” têm questionários censitários mais enxutos que o brasileiro. Ocorre, porém, que os países em questão dispõem de uma estrutura muito mais robusta de dados administrativos, contando, portanto, com uma alternativa parcial ao Censo. No Brasil, os dados censitários são insubstituíveis.
Fonte única de informações desagregadas por municípios e até por bairros, o Censo Demográfico é insumo básico de inúmeras políticas públicas federais, estaduais e municipais. Dessa forma, o corte do questionário do Censo resultaria em potencial ineficiência na gestão pública, gerando muito mais prejuízos que “economia”.
O Censo não permite apenas uma análise pontual, mas também uma comparação com resultados passados. Coletar menos informações do que edições passadas, provocando quebra das séries históricas de estatísticas, seria uma perda irreparável.
O ministro afirmou que “Quem pergunta demais descobre o que não quer”. Não sabemos ao certo o que o Ministro não quer “descobrir”. Talvez algumas informações sobre a realidade brasileira lhe sejam inconvenientes. É de interesse público, porém, produzir o retrato mais completo possível do nosso país.
Ainda mais estranha é a sugestão de vender os imóveis utilizados pelo IBGE para financiar o Censo de 2020. Em primeiro lugar, o valor arrecadado com essa proposta seria bastante reduzido frente ao montante necessário à realização do Censo. Em segundo, não há tempo hábil para realizar as novas locações, as mudanças e as alienações dentro do prazo necessário para a realização do Censo. Por fim, a alienação dos imóveis criaria enormes gastos adicionais com locação para os anos seguintes, que o orçamento atual do Instituto não tem condições de acomodar.
O ministro aparenta não ter ciência plena das dimensões, dificuldades e, sobretudo, da importância da operação censitária.
A ASSIBGE-SN espera que o Ministro reconsidere seu posicionamento. O Censo Demográfico é um patrimônio nacional.
Executiva Nacional da ASSIBGE-SN
22 de fevereiro de 2019