A medida de arrocho só passou por conta da traição de 19 deputados que se prostituíram e passaram para o lado do governo algoz dos idosos
A traição de 19 deputados da oposição, eleitos pelo Partido Justicialista (peronista), deu a Maurício Macri a condição de aprovar o rebaixamento dos reajustes das aposentadorias dos argentinos.
A medida de arrocho passou por 128 a 116 com duas abstenções. Com o país sublevado. Uma greve geral convocada pela CGT parou transportes, caminhoneiros aderiram à paralisação e trabalhadores de todos os cantos do país tomaram as ruas com a manifestação principal congregando uma multidão que se aglomerou na Praça do Congresso.
O trânsito dos deputados se deu sob pressão de governadores que venderam as parcas condições de sobrevivência dos idosos argentinos em troca da promessa de algumas emendas para seus Estados. O governador da província de San Luis, Alberto Rodríguez Saá, foi o único que não cedeu às pressões macristas. Os governadores que se bandearam foram os de Misiones, Córdoba, Santiago del Estero, Entre Ríos, Chaco, Tucumán, Salta, Chubut e Neuquen, que chamaram sua traição de “dialoguismo”.
Quando os procedimentos parlamentares começaram, o clima ficou tenso nas ruas e uma verdadeira chuva de pedras sob o contingente de mais de mil policiais expresou a fúria da população com o arrocho que se desenhava após a traição daquele punhado de parlamentares. Aos poucos, milhares de donas de casa começaram a ocupar as praças de seus bairros em diversos recantos do país. Aos congressistas chegavam os ecos dos panelaços em Cabildo, Juramente, Quinta de Olivos, Villa Crespo, Acoyte, Rivadavia, Córdoba, Lomas de Zamora, Avellaneda, Vicente López, Callao e Corrientes.
A deputada Victoria Donda levantou-se no meio do plenário e empunhando uma colher e uma tampa de panela repercutiu diante dos congressistas o imenso protesto que vararia a madrugada até o final da votação, já na manhã do dia 19.
A medida aprovada muda a formula de reajuste das aposentadorias, antes definida com um índice obtido 50% com base na variação da arrecadação e 50% de acordo com a evolução geral dos salários. Agora o cálculo levará em consideração a inflação, compondo 70% do novo índice e o reajuste do servidor público com 30%.
Somente no ano que entra, isso implicará em 5,7% de reajuste contra o que seria antes de 12%. A perda dos 17 milhoes de aposentados e pensionistas, numa população de 44 milhões será de 100 bilhões de pesos argentinos (19 bilhões de reais).
Para diminuir o medo dos deputados diante da fúria dos argentinos, Macri falou em oferecer um bônus aos aposentados que montaria em 4% do valor cortado. Os deputados oposicionistas puseram apontaram a farsa:
“Este é um governo fajuto e palhaço (de mamarracho). Como pode enviar ao Congresso um decreto para modificar um projeto que está sendo debatido sem aceitar modificações?”, arguiu o deputado Leopoldo Moreau. Sobre o bônus declarou: “como institui um bônus para compensar o que diz que não está tirando?”.
Já o deputado Axel Kicillof, do Partido Justicialista e da Frente para a Vitória, ex-ministro da Economia, de Cristina Kirchner, foi direto ao ponto: “O que se trata aqui é de tirar dinheiro do bolso dos aposentados. Isso tem um único nome, é um assalto, não tem outro nome”.
Kicillof acrescentou que a medida “é um engodo eleitoral”, pois durante a campanha Macri “declarava que não iria tocar nos haveres dos aposentados e lhes tira 100 bilhões de pesos anuais (19 bi de reais).”
NATHANIEL BRAIA