Publicamos, a seguir, os poemas “Fuzis ou Violinos” e “Sanidade”, do poeta, escritor e tradutor Sidnei Schneider.
Sidnei é autor de diversos livros, entre eles À linha d’água do rio (Pubblicato Editora, 2024) e Andorinhas e Outros Enganos (Dahmer, 2012).
FUZIS OU VIOLINOS
“Voz de um vinho distante”.
Violinos, Mahmud Darwich.
eles vêm, atiraram no olho
do meu irmão, alvo de costume
sendo criança, para garantir
o futuro, dizem entre si,
isso se deu na última vez,
e agora, são fuzis ou violinos,
vêm com violinos ou fuzis?
[eu prefiro violinos]
eles vêm, o pó levanta, são
tanques, em cima do tanque quê
é que tem? derruba casas, corta
pernas, espalha cores de órgãos,
isto se dá na data de hoje,
e então, são obuses ou violinos,
vêm com violinos ou obuses?
[eu prefiro violinos]
eles vêm, destroem os hospitais
com bombas e mísseis, nosso prédio
implodem para arrasar, são quem
pratica o holocausto, como pode?
isto se dá na data de hoje,
e agora, são nazis ou violinos,
vêm com violinos ou são nazis?
[eu prefiro violinos]
SANIDADE
Sei, estamos indo em frente,
sei que estamos indo em frente,
que aqui estamos evitavelmente,
mas onde brincam as crianças?
Chegamos a Marte, após Kuiper,
falamos e nos vemos nas telas
do outro lado da tela dos Jetsons,
mas onde brincam as crianças?
Criamos bons e novos artefatos,
os donos ganham com o horror,
via fakes, pedófilos, fascistas,
mas onde brincam as crianças?
O império parece forte ao cair,
o césar parece forte ao exigir
e parece ainda mais ao mentir,
mas onde brincam as crianças?
Mudamos o mundo a cada dia,
sem parar, ele sempre mudará,
há grama sob os pés descalços,
vale cada vez mais a pena lutar.
Mas onde brincam as crianças,
onde elas brincam, as crianças,
em Gaza seria possível brincar?
Deixemos as crianças em Paz.
Sidnei Schneider, 2025.