O encontro de ministros das Finanças, preparatório da cúpula do G-7, encerrado no sábado (2), parecia mais um ringue, com os representantes da Alemanha, França, Japão, Inglaterra, Itália e Canadá apopléticos contra as sobretaxas sobre o aço (25%) e alumínio (10%), instauradas por Trump sob a alegação de “razões de segurança nacional”.
O secretário norte-americano, Steven Mnuchin, foi tão estapeado que seu contraparte japonês, Taro Aso, disse que “quase sentiu pena” dele. Esta semana, o entrevero continua, mas agora com a presença do próprio Trump.
Com o protecionismo suis generis de Trump, como visto no caso do rompimento do acordo nuclear com o Irã, no qual quem não seguir o chefe vai ter suas empresas sancionadas também, não há como estranhar a gritaria dos “aliados transatlânticos”. “Eu diria que foi bem mais um ‘G-6’ + 1 do que um G-7”, afirmou o ministro da Economia francês, Bruno Le Maire.
Não houve declaração final, exceto a dos seis ministros – e unânime – condenando o governo Trump pelas sobretaxas. A bola, afirmou Le Maire, agora está com a Casa Branca, acrescentando que queremos “evitar uma guerra comercial”, mas que “tudo está pronto”. A lista de retaliação da UE que veio a público em março atinge motos Harley Davidson, uísque Bourbon e outros produtos hi-tech dos EUA.
“É um dia ruim para o comércio mundial”, afirmou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. “É totalmente inaceitável que um país imponha medidas unilaterais no que diz respeito ao comércio mundial”. Ele acrescentou que a UE ingressará “imediatamente” na OMC com um questionamento das sobretaxas e que contramedidas serão anunciadas “em horas”. Merkel, a voz do dono, advertiu que as sobretaxas de Trump ameaçam o comércio mundial “com uma escalada em espiral”.
Segundo o Financial Times, é grande o pavor em Berlim de que a Casa Branca concretize sua ameaça de sobretaxar os carros alemães. Uma tarifa de 25% seria “o final da relação comercial entre a Alemanha e os Estados Unidos”, já que nem um só carro fabricado na Alemanha poderia ser vendido com lucro.
Já o ministro das Relações Exteriores alemão, o social-democrata Heiko Maas, afirmou que as novas tarifas de Trump são “ilegais” e que a resposta à “America primeiro” tem que ser a “Europa unida”.
O presidente francês Emmanuel Macron alertou sobre caminhar como “sonâmbulos” – uma imagem muito comum em relação à I Guerra Mundial – em direção à guerra comercial e discorreu sobre a “necessidade de transformar a OMC”.
Sobrou também para o Nafta, já em frangalhos. O governo do México, em fim de mandato, assinalou que as sanções sob o critério de segurança nacional (dos EUA) “não são adequadas nem justificadas” e asseverou que irá reagir com sobretaxas “equivalentes” até o montante afetado.
A chanceler canadense, Chrystia Freeland, anunciou contramedidas sobre importações dos EUA até o valor de US$ 16,6 bilhões, a partir de 1º de julho. Mas era o primeiro-ministro Justin Trudeau que se mostrava mais chocado. O Canadá tem sido um aliado dos EUA “das praias da Normandia até às montanhas do Afeganistão”, lamuriou-se. É “inconcebível”, clamou, que o Canadá possa ser considerado uma “ameaça à segurança nacional dos EUA”. “Temos que crer que em algum momento prevalecerá o senso comum, mas hoje não vemos sinal disso”.
Vozes poderosas dentro dos EUA conclamam a volta à estratégia anterior, de formar blocos sob predomínio dos monopólios (e leis) ianques, como rota para impedir a ascensão da China. A CNN, após dizer que “Trump começa guerra comercial global”, afirmou que isso coloca em risco “2,6 milhões de empregos americanos”. Depois, achando que ainda era pouco, chantageou: “cerveja dos EUA fica mais cara”.
Mas o presidente da associação de produtores norte-americanos de aço e ferro, Tom Gibson, agradeceu a Trump por asegurar “um sólido setor siderúrgico estadunidense”.
CHINA X TRUMP
China e Trump seguem se encarando, para ver quem pisca primeiro. O secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, esteve em Pequim no fim de semana, dias após Trump voltar a anunciar sobretaxas no montante até US$ 50 bilhões. A China havia se comprometido em aumentar suas importações dos EUA. Não saiu qualquer comunicado conjunto da reunião.
Nota chinesa registrou “passos positivos” enquanto “os detalhes relevantes ainda têm que ser confirmados por ambos lados”. Posteriormente, a agência chinesa estatal Xinhua advertiu que “se os EUA introduzirem sanções comerciais, incluindo tarifas, todas as conquistas comerciais e econômicas negociadas pelas duas partes ficarão nulas”.
A.P.