Na cúpula do G20– que reúne as 20 maiores economias do mundo – de Buenos Aires, EUA e China combinaram uma trégua de três meses na escalada da guerra comercial, com o adiamento do aumento das tarifas sobre metade das importações provenientes da China de 10% para 25%, previsto para entrar em vigor em 1º de janeiro de 2019. O acordo foi alcançado em reunião entre o presidente Xi Jinping e o presidente Donald Trump.
Como de costume, essas negociações sempre são cheias de emoções fortes – como naquele desmaio de Bush Pai na célebre viagem a Tóquio -, mas o acontecimento mais folclórico foi o papelão do presidente argentino Macri, anfitrião da cúpula, que ficou completamente desconcertado ao ser ignorado por Trump, na abertura, que passou direto por ele. Parecia cachorro – melhor dizendo, um lulu – em dia de mudança.
Na abertura, Trump e o presidente russo Vladimir Putin também se ignoraram, e sequer trocaram um aperto de mãos, depois que o americano desmarcou unilateralmente a reunião já definida, depois que seu ex-advogado pessoal o deixou em maus lençóis em depoimento em um tribunal. Embora Trump haja dito que o cancelamento da reunião era “por causa da Ucrânia”.
E o drama de Theresa May: seria sua despedida do G20? O príncipe saudita MBS conseguiu passar incólume, embora quase caindo da foto.
Ao contrário do que aconteceu no mês passado, quando a cúpula das economias da área do Pacífico (APEC) não conseguiu sequer emitir um comunicado final, o G20 divulgou declaração feita sob medida para evitar um confronto aberto e que todos pudessem admitir. O Wall Street Journal afirmou que os negociadores europeus chegaram a pensar que a vaca ia para o brejo.
Assim, a declaração registrou a contribuição do “sistema multilateral do comércio” para o crescimento da economia mundial, mas para atender Washington acrescentou que este “está aquém de seus objetivos e há espaço para melhorias”.
O documento se compromete com uma “necessária reforma da OMC”, embora ninguém saiba o que vai sair daí. O que ficará para a cúpula de Osaka, no Japão, no próximo ano.
Mas o que os EUA querem mesmo é continuar pressionando a China para que abra seu mercado aos bancos americanos e para que recue em seu programa de domínio da alta tecnologia em curso, o “Made in China 2025”, que considera uma ameaça, e que combate sob o pretexto de “roubo da propriedade intelectual” ou “transferência de tecnologia forçada”, além da oposição ao megaprojeto chinês da nova rota da Seda.
Para a trégua na guerra comercial, Pequim repôs na mesa sua oferta de aumentar suas importações dos EUA de forma “muito substancial” em produtos agrícolas, industriais e de energia, apresentada em maio, e que Trump recusara. A cúpula também considerou o acordo do clima de Paris “irreversível” e anotou a decisão de Trump de se retirar.
Durante a cúpula, Trump, mais o presidente mexicano de saída, Peña Nieto e o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, assinaram o acordo Nafta 2.0, batizado por Trump como Acordo EUA-México-Canadá (USMCSA). Em Buenos Aires, a grande preocupação dos europeus foi evitar, ou adiar, a imposição das sobretaxas sobre as exportações de automóveis de 25%. A cúpula ocorreu na sexta-feira e sábado.
Cena em que Trump ignora o anfitrião Macri e oexpõe ao ridículo no G20