O Ministério Público do Rio de Janeiro afirma que encontrou indícios de uma organização criminosa formada por dezenas de integrantes do gabinete de Flávio Bolsonaro e outros assessores nomeados por ele na Alerj, com clara divisão de tarefas, que agia dentro do gabinete do então deputado e hoje senador do PSL, Flávio Bolsonaro, desde 2007.
Na quarta-feira (15), a revista “Veja” revelou detalhes de um relatório dos procuradores sobre indícios de lavagem de dinheiro com imóveis. (Para MP, compra e venda de 19 imóveis por Flávio é “lavagem de dinheiro”)
O relatório foi usado pelo MP para justificar à Justiça o pedido de quebra do sigilo bancário e fiscal de 95 pessoas e empresas relacionadas a Flávio Bolsonaro.
O documento do MP cita três núcleos, com “clara divisão de tarefas” no que seria um crime de peculato – apropriação, por funcionário público, de bens alheios -, além de lavagem de dinheiro.
O primeiro núcleo nomeava pessoas para ocupar cargos em comissão na Alerj em troca do repasse de parte dos seus salários, prática conhecida como “rachadinha”. O segundo recolhia e distribuía os recursos públicos desviados do orçamento da Alerj, “cuja destinação original deveria ser a remuneração dos cargos”. E o terceiro seria formado “pelos assessores que concordaram em ser nomeados sob compromisso de repassar mensalmente parte de seus salários”.
Entre as pessoas que terão seus sigilos quebrados, além do senador Flávio Bolsonaro, estão Fabrício Queiroz, que tentou ‘assumir sozinho’ e ‘desviar foco’ das investigações sobre supostos crimes, sua mulher Márcia Aguiar e as filhas Nathalia e Evelyn Queiroz e Leonardo Rodrigues de Jesus (Leo Índio), primo de Flávio.
Terão seus sigilos quebrados também Danielle Nóbrega e Raimunda Magalhães, mulher e mãe, respectivamente, do ex-PM foragido, Adriano Magalhães da Nóbrega, tido pelo MP do Rio como chefe do Escritório do Crime.
A organização de milicianos é suspeita de envolvimento no assassinato da ex-vereadora, Marielle Franco (Mãe e mulher de chefe de milícia trabalhavam para Flávio Bolsonaro na Alerj).
De acordo com os investigadores, Flávio Bolsonaro investiu R$ 9,4 milhões na compra de 19 salas e apartamentos na Zona Sul e na Barra da Tijuca, no Rio, entre 2010 e 2017. De acordo com os promotores, Flávio lucrou mais de R$ 3 milhões com as negociações.
Segundo a revista Veja, a fraude pode ter ocorrido para “simular ganhos de capital fictícios” que encobririam “o enriquecimento ilícito decorrente dos desvios de recursos” da Alerj. Os promotores ressaltam que o comprador tem, entre os sócios, uma empresa sediada no Panamá, conhecido paraíso fiscal.
“Não parece crível”, destaca o documento, “a insinuação da defesa de que a liderança da organização criminosa caberia ao próprio Fabrício Queiroz, um assessor subalterno, que está desaparecido e que teria agido sem conhecimento de seus superiores hierárquicos durante tantos anos”.
Os investigadores citam que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) considera como “sérios indícios de lavagem de dinheiro” a realização de operações imobiliárias envolvendo pessoas jurídicas cujos sócios mantenham domicílio em países com tributação favorecida.
Reação de Bolsonaro: “não vão me pegar”
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (16) em Dallas, nos Estados Unidos, que o objetivo da quebra do sigilo de um dos filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), é atingi-lo. (Bolsonaro e as milícias)
“Querem me atingir”, respondeu o presidente, ao ser questionado sobre o assunto nos Estados Unidos, para onde viajou a fim de se encontrar com o ex-presidente George W. Bush e de receber uma homenagem da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. Para o presidente, a medida é uma “ilegalidade”.
“Querem me atingir? Venham para cima de mim! Querem quebrar meu sigilo, eu sei que tem que ter um fato, mas eu abro o meu sigilo. Não vão me pegar.
Mas grandes setores da mídia, ao qual vocês integram, não estão satisfeitos com o meu governo que é um governo de austeridade, é um governo de responsabilidade com o dinheiro público, é um governo que não vai mentir e não vai aceitar negociações, não vai aceitar conchavos para atender interesse de quem quer que seja. E ponto final”, disse Jair Bolsonaro.
S.C.