
Na opinião do chefe do BC, “a resiliência da economia ainda está muito ligada a gastos excessivos do governo”
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou na segunda-feira (2), durante evento com operadores e analistas do mercado financeiro, que a economia brasileira está demorando a responder com retração às taxas de juros reais próximas de 10%.
“A economia vem apresentando uma resiliência surpreendente para o nível da taxa de juros que a gente tem”, disse ele, revelando que, na verdade, o objetivo de sua atuação à frente do BC é mesmo provocar retração no país.
Por conta desse objetivo – retrair a economia – Gabriel Galípolo vem defendendo a permanência de juros elevados por um longo período. Além de manter a economia sufocada com os custos proibitivos do crédito, ele também critica o governo por, aparentemente, atuar em sentido contrário e atrapalhar o atingimento de sua meta restritiva. Na opinião do chefe do BC, “a resiliência da economia ainda está muito ligada a gastos excessivos do governo”, o que, segundo ele, “geraria inflação”.
Esta afirmação parte da premissa errada de que a atual inflação brasileira seria provocada por excesso de demanda da população. A atual inflação não é de demanda. Ela é consequência da prática monopolista dos setores de energia e commodities. Contribuíram para alta da inflação também a não reconstrução no ritmo necessário dos estoques reguladores de alimentos, destruídos pelas administrações de Michel Temer e Jair Bolsonaro. A inflação brasileira, portanto, não tem a ver com demanda superaquecida e sim com deformações monopolistas na oferta.
O presidente do BC também reclamou da “resiliência do nível de emprego”. Ele chamou a atenção para o fato do desemprego ter fechado em 6,6% no trimestre terminado em abril. “É a pergunta central para todos que estão aqui nessa sala: (…) conseguir explicar como é possível você ter uma economia que tem uma taxa de juros real que se aproxima de 10% e estar em pleno emprego”, disse ele. Evidentemente, o tal “pleno emprego” de Galípolo não leva em conta os subempregados, os 39 milhões de brasileiros na informalidade, sendo 25,6 milhões trabalhando por conta própria.
A “grita” de Gabriel Galípolo e demais membros do BC contra os “gastos excessivos” do governo está dirigida contra os investimentos públicos e os gastos sociais. Está dirigida contra as despesas para atender as necessidades prementes da sociedade, como Saúde, Educação, Ciência e Tecnologia, Segurança, etc. Ele não diz uma palavra sobre os gastos gigantescos do Tesouro com os juros da dívida. O país gasta um trilhão de reais por ano para pagar juros, mas a reclamação de Galípolo e campanha na mídia é por cortes na Previdência, no BPC, na Saúde, nos investimentos, etc.
Os “gastos” com investimentos do governo são alvos do BC e de todos os porta-vozes dos bancos porque eles significam menos ganhos para os rentistas. Eles significam maior crescimento, maior produção, menor desemprego, maior consumo e, por consequência, melhoria para o conjunto do país. E isso é inadmissível para os parasitas e sanguessugas de todos os matizes.
O Banco Central hoje é o quartel-general do rentismo e da especulação financeira. Seu papel é defender os interesses dos ínfimos setores da sociedade que vivem da agiotagem. A direção “autônoma” do BC não tem nada de “guardiã da moeda” ou “controladores da inflação”. Isso é só fachada. Eles estão ali para garantir o máximo de recursos públicos para os cofres dos bancos e demais rentistas.
Para essa gente, o país crescer mais de 3% ao ano é um verdadeiro escândalo. Eles acham que isso está muito acima do “PIB potencial do Brasil”. Por isso, as reclamações contra os investimentos públicos. Por isso, os juros altos e as medidas drásticas para “esfriar” a economia.
Esse limite de crescimento imposto pelos neoliberais de dentro e de fora do governo ao crescimento do Brasil parece uma piada de mau gosto quando sabemos que o Brasil já cresceu a 6,7% ao ano em média de 1930 a 1980. Ou quando vemos que o país que cresceu 7,5% no último ano do segundo governo Lula sem que a inflação significasse qualquer ameaça.
“Teto de crescimento” por conta de ameaça de inflação é uma falácia que esconde o objetivo central do Banco Central, que é de priorizar o parasitismo e a remuneração cada vez maior da meia dúzia de detentores de títulos públicos.
Além de manterem o país estagnado para que os recursos públicos possam ser drenados aos trilhões à agiotagem e à especulação financeira, a intenção do BC de elevar o desemprego tem também um outro objetivo tão deletério quanto esse. A queixa de Galípolo contra a resiliência do emprego é decorrente do objetivo de manterem um gigantesco “exército de reserva” para forçar os salários para baixo. Com isso, além de sugar os cofres públicos e asfixiarem o país, garantem os superlucros dos monopólios à base de uma exploração brutal dos trabalhadores.
SÉRGO CRUZ