“A gente pega alguns indicadores de inflação, de produtos que não podem ser importados, para olhar o quanto isso pode ser um termômetro de quanto a atividade econômica está aquecida e pressionando salários e preços”, declarou o diretor do BC
O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira (26) que não acredita em “grandes rupturas” na atual política monetária, que mantém os juros em patamares estratosféricos.
Na 2ª Conferência Diálogos com o Futuro”, realizado pelo Tribunal de Contas do Estado do Piauí, em Teresina, Gabriel Galípolo afirmou que os indicadores apontam que a economia brasileira está “aquecida”, o que justificaria um aumento dos juros para frear o crescimento econômico e gerar desemprego com o fim de colocar a inflação do centro da meta.
“A gente pega alguns indicadores de inflação, de produtos que não podem ser importados, para olhar o quanto isso pode ser um termômetro de quanto a atividade econômica está aquecida e pressionando salários e preços”, declarou.
“A gente está com o menor desemprego nos últimos 10 anos, a renda cresceu 12% frente a 2022 e bateu recorde”, citou o diretor do BC. “Temos o crescimento do crédito por 6 meses consecutivos já passando 2 dígitos, a emissão de debêntures foi 2,5 vezes o volume que ocorreu em 2023”, comentou.
Para Galípolo, que chegou ao BC por indicação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, os diretores do BC não devem se constranger em ir contra a vontade dos empresários produtivos, trabalhadores e do próprio presidente Lula, que clamam por mudanças na atual política monetária, que, executada por meio da manutenção dos juros altos no país, trava os investimentos e consumo interno, com o pretexto de combater a inflação.
“Parece que a gente realmente é o chato”, reclamou Galípolo, ao argumentar que as projeções de inflação do mercado não estão convergindo para o centro da meta e que o cenário atual é marcado por mais riscos, sendo “desafiador”, o que também justificaria a elevação da taxa básica de juros (Selic), hoje em 10,50% ao ano.
“Por isso, o Banco Central assumiu uma posição mais conservadora. Interrompeu seu ciclo de cortes [na taxa básica]”, ao afirmar que sobre a taxa de juros “todas as alternativas” estão na “mesa”.
Nesta segunda-feira (26), o BC divulgou que as instituições financeiras voltaram a elevar a estimativa de inflação para 2024, passando de 4,22% para 4,25%. Há 4 semanas, o ponto médio das expectativas estava em 4,10%.
O mercado financeiro também manteve a projeção da taxa Selic em 10,50% ao ano, o que significa que, pela mediana das projeções, de acordo com o boletim Focus do BC, metade das instituições ouvidas indicaram uma Selic acima dos 10,50% no fim de 2024.
Todas as pressões do corporativismo financeiro são para que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC eleve a taxa Selic em, no mínimo, 0,25 pontos percentuais (p.p) na próxima reunião do colegiado, em meados de setembro.
Na última reunião do Copom, os diretores do BC, em votação unânime, decidiram manter a taxa Selic no 10,5% e afirmaram que “não hesitarão em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”, diz trecho da última ata da reunião do colegiado. A última alta da Selic aconteceu em junho de 2022, quando a taxa atingiu 13,75% ao ano – patamar que permaneceu até agosto do ano seguinte.
A cada 1 ponto percentual de aumento da Selic, a dívida pública aumenta R$ 46,4 bilhões, segundo informações do próprio BC. No acumulado de 12 meses até junho, o gasto do setor público (União, estados/municípios e estatais) com o pagamento dos juros da dívida extrapolou a casa dos R$ 830 bilhões – recursos de toda sociedade brasileira que deixam de virar investimentos para aumentar a fortuna de banqueiros, rentistas e especuladores do erário dentro e fora do Brasil.