
A “malandragem” é que os mais de 40 milhões de brasileiros que estão se virando por conta própria são considerados pelo gaiato como empregados
A dobradinha Haddad e Galípolo aparentemente está bastante afinada. Um lança a proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) com meta de superávit primário de 0,25% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2026, ou seja, um aperto ainda maior na economia, para transferir mais R$ 34 bilhões para os banqueiros. Isso sem falar dos mais de R$ 920 bilhões que já são desviados anualmente para o sistema financeiro.
E o outro segue defendendo juros cada vez mais altos para estrangular a economia. Isso ficou claro na audiência de Galípolo no Senado, nesta terça-feira (22), onde ele repetiu que o juros vão permanecer altos porque há quase pleno emprego e a atividade econômica no Brasil estaria superaquecida.
PIB POTENCIAL
Segundo ele, a economia está acima do que os economistas (neoliberais) chamam de “PIB potencial”. Esse conceito é dos bancos e diz que o Brasil não pode crescer mais de 3%. Qualquer coisa acima disso, seria inflacionário. Ele chegou a afirmar que o país está se aproximando do pleno emprego. Uma conclusão falaciosa que considera os mais de 40 milhões de brasileiros que estão se virando por conta própria como empregados.
E mais, o conceito de PIB potencial é uma fabricação do mundo financeiro, em benefício de seus próprios interesses. Eles forçam a alta dos juros, provocam recessão, fecham empresas e concluem, em seguida, oportunisticamente, que o país não pode crescer. Tem que se manter estagnado porque não teria mais estrutura para produzir e, se aumentar o consumo, haverá inflação. Isso é uma farsa, uma mentira. O que eles querem é que a especulação se sobreponha à produção e ao consumo.
Se não vejamos. O país cresceu em média 6,7% por ano, de 1930 a 1980, segundo dados oficiais, e tivemos vários índices de inflação neste período, altas, médias e baixas. Não há nenhuma lógica nesse dogma neoliberal. Em 2010, por exemplo, o Brasil cresceu 7,5% e a inflação foi aproximadamente a mesma de agora, de 5,9%, quando o país cresceu apenas 3,4%. Não esta ligação alegada.
ORQUESTRAÇÃO POR JUROS ALTOS
A grita generalizada dos porta-vozes dos bancos de que a inflação vai explodir é mentira. Essa gritaria não passa de orquestração para defender mais juros altos e consequentemente mais dinheiro para os bancos, para os bilionários rentistas e para Wall Street que manda em todos eles.
Aliás, são duas mentiras que eles contam. O país está sofrendo uma grave desindustrialização, um empobrecimento geral e uma precarização sem paralelo de sua mão de obra e precisa acelerar o crescimento e a criação de empresas. Dizer que isso é inflacionário é criminoso. É pretexto para subir juros, manter a estagnação e engordar rentistas.
A segunda mentira, como já foi dito, é que o Brasil estaria próximo de um suposto “pleno emprego”. Isso chega às raias do cinismo. Se estivesse ocorrendo isso de verdade, o atual governo não estaria tendo tantos problemas com as pesquisas de opinião. O que está superaquecido no Brasil não é o emprego, nem a produção ou o consumo, o que está bombando são os ganhos dos especuladores.
LUCROS BOMBANDO
Mas, segundo Galípolo, “os indicadores de mercado de trabalho e atividade econômica reforçam o ritmo intenso da economia”. Excluindo que seja mau-caratismo, o presidente do BC só pode chegar a essas conclusões por uma razão. É que ele só discute com os bancos. Ele só ouve o Focus, que não passa de um clube de banqueiros. Esse “clube” (pasmem) é quem “assessora” o BC para a definição das taxas de juros.
“Por diversas métricas que você possa medir, seja relativas a mercado de trabalho, seja a nível de atividade dos diversos setores, o que a gente passa a assistir é que a economia brasileira mostra um dinamismo excepcional e que ela está bastante aquecida”, prosseguiu o presidente do BC.
Os banqueiros na verdade, não estão mentindo. Seus lucros realmente estão bombando. Se tivesse produção, mais investimentos e mas empregos, seus lucros especulativos cairiam. Por isso eles convencem o BC a subir os juros e manter o país estagnado.
FANTASMA DA INFLAÇÃO
Segundo Galípolo, a inflação “segue elevada e disseminada entre diferentes segmentos”. Em sua apresentação, ele destacou que “os preços continuam acima da meta contínua de 3% ao ano, com aumentos registrados em bens industriais, serviços, preços administrados e alimentação em domicílio”. “Há uma persistente desancoragem das expectativas do mercado”, arrematou. Traduzindo o que ele quis dizer com “desancoragem das expectativas do mercado”: tem que subir os juros.
Em suma, a política de Gabriel Galípolo à frente do Banco Central, parece não ter mudado nada em relação a de seu antecessor, o bolsonarista Roberto Campos Neto. As mesmas ladainhas e as mesmas justificativas para seguir estrangulando o país. Não há da parte dele nenhuma ponderação sobre o absurdo que é um país como o Brasil definir uma meta de inflação de 3% ao ano. E ele acabou admitindo que trabalha contra o Brasil. Isso ficou claro quando ele disse que sabe que é o “chato da festa”. O problema é que é exatamente isso que os bancos querem dele. E ele obedece.