
Presidente do BC “acalmou os mercados” garantindo que metas de altas na Selic “permanecem vigentes”
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, desautorizou qualquer avaliação que projete uma interrupção da alta dos juros por parte do Copom (Comitê de Política Monetária) num futuro próximo. Ao participar, nesta segunda-feira (28), de evento da J. Safra Asset, ele enfatizou que as principais mensagens contidas na decisão passada do BC “permanecem vigentes”. Ou seja, seguem os juros na lua.
A fala de Galípolo foi um balde de água fria em quem esperava um alívio monetário. Ele disse que “segue intacta a preocupação com a dinâmica da inflação, que permanece acima da meta e com expectativas desancoradas”.
O chefe do BC fez questão de enfatizar a manutenção do arrocho porque, na semana passada, o diretor de política econômica do BC, Diogo Guillen, deu a entender que os juros talvez não precisassem subir muito mais.
Diante da repercussão da avaliação do diretor do BC, ele disse que conversou com Guillen no sentido de reforçar que a política contracionista seguirá por mais tempo. “Há necessidade de ter flexibilidade e cautela diante de um aumento das incertezas globais”, afirmou, lembrando que as expectativas inflacionárias “ainda demandam vigilância pelo BC”. Segundo ele, a contestação de seu subordinado foi para “acalmar” o mercado.
Galípolo justificou que Diogo Guillen estava apenas apresentando um cenário para mostrar que, independente da taxa de juros neutra que possa se adotar, a Selic está em um patamar contracionista “com alguma segurança”. Ou seja, ele “acalmou os bancos” descartando qualquer taxa de juros que não provoque contração na economia.
Para o presidente do BC, a continuidade do estrangulamento do país é um instrumento para enfrentar uma suposta “desancoragem das expectativas”. “A gente espera justamente nessa ordem [demanda desacelerando, produção desacelerando e, em seguida, o mercado de trabalho]. É como os fios são cortados em um processo como esse. De onde começamos a assistir a desaceleração, até chegar em outros setores, até vermos um processo de convergência de inflação”, argumentou.
O que Galípolo quis dizer é que os objetivos da contração das atividades são vários. Não é só aumentar o desemprego. Tem que desaquecer a economia e esfriar o consumo, para, aí então, derrubar o mercado de trabalho. “Sempre existe o desejo de identificar qual é a variável, mas a gente quer reunir o maior número possível de variáveis para ter confiança de que o processo de aperto monetário está levando a inflação para onde a gente quer.”
Completamente insensível às consequências de sua política para a vida do povo brasileiro e para a avaliação do governo Lula, Galípolo sinaliza um longo tempo de aperto na economia.
“Precisamos ter a certeza de que a inflação está convergindo e a política monetária está tendo os efeitos desejados”, disse o presidente do BC, ao enfatizar que há necessidade de “dar o devido tempo” para os efeitos da política monetária.
O burocrata afastou também o que ele chama de “desinflação imaculada” – que seria uma redução nos preços que não provocasse uma desaceleração na atividade econômica. Segundo ele, essa desinflação “ficou para trás”. Aqui fica claro que a meta é mesmo a recessão. É uma cofissão que o objetivo da atual gestão do BC, assim como a da anterior, é afundar o país. E ele admite que “a política monetária está produzindo os efeitos desejados”.
SÉRGIO CRUZ