Galípolo se desmascara e confessa que juros seguirão altos mesmo com inflação caindo

Gabriel Galípolo, presidente do BC.(Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil)

Meta irrealista é o pretexto usado para continuar transferindo recursos públicos para os cofres dos bancos

O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse nesta quinta-feira (23) que os preços no Brasil vêm caindo, mas o BC vai manter os juros em 15% ao ano por mais um tempo.  

“A inflação e expectativas seguem fora do que é a meta, isso é um ponto de bastante incômodo para o Banco Central, mas estamos falando de uma inflação que está num processo de redução e retorno para a meta”, disse Galípolo no Fórum Econômico Indonésia-Brasil, em Jacarta. 

“A economia brasileira vem passando por um ciclo de crescimento contínuo … e ainda assim com nível de inflação que, apesar de fora da meta, o que demanda o Banco Central permanecer com uma taxa de juros num patamar elevado e restritivo por um período prolongado para que a gente possa produzir essa convergência”, declarou. 

Ao manter os juros altos com a inflação em baixa, Galípolo prejudica o desempenho da economia, já em forte ritmo de desaceleração, além de agravar os problemas da indústria brasileira, que luta contra a desindustrialização. Descontada a inflação esperada da taxa de juros nominal, o juro real deve encerrar o ano acima dos 10% ao ano, firmando o Brasil entre os maiores juros do planeta. 

Enquanto os juros altos penalizam a produção e a vida dos brasileiros, o sistema financeiro se beneficia com a transferência de recursos públicos no montante se aproxima de 1 trilhão de reais para bancos e demais rentistas. Em 12 meses, até agosto deste ano, a despesa com pagamento de juros foi de R$ 946,5 bilhões. Para manter essa sangria, é grande a orquestração por cortes de despesas em saúde, educação, previdência social, Benefício de Prestação Continuada, seguro defeso, segurança pública e o salários dos servidores. Nenhuma palavra sobre as despesas com juros.. 

No início desta semana, o presidente Lula voltou a defender a redução dos juros, o que permitirá a retomada da expansão dos investimentos no país. “Eu quero que os empresários todos ganhem muito dinheiro, que as suas empresas possam crescer, produzir, gerar emprego”, afirmou Lula. “O Banco Central vai precisar começar abaixar os juros”, cobrou.

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, “os juros praticados no Brasil são uma barreira intransponível ao desenvolvimento. A taxa atual asfixia as empresas, empobrece as famílias, compromete empregos e perpetua a desigualdade. Tudo isso em nome do rentismo”.

“As expectativas de inflação vêm caindo e já estão dentro do intervalo da meta. Por que isso só é considerado quando se trata de elevar a Selic, mas nunca quando se discute reduzi-la?, cobrou o dirigente da CNI.

INDÚSTRIA EM DESACELERAÇÃO

A CNI aponta que a redução do ritmo de atividade da indústria de transformação “se deve, em primeiro lugar, ao patamar elevado dos juros”. No segundo trimestre deste ano, o nível de crescimento do principal ramo da indústria registrou queda de -0,5%, resultado que agrava o recuo de 1% observado no trimestre de janeiro a abril deste ano. O crescimento esperado este ano para a Indústria de transformação é de apenas 0,7%.    

No terceiro trimestre, conforme indicadores da CNI, o empresariado da indústria seguiu reportando dificuldades no setor, As taxas de juros elevadas estão entre os principais problemas apontados pelos industriais pelo baixo desempenho no período.  

O gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, afirma que a “Sondagem industrial” de setembro deste ano, “mostra um quadro difícil para a indústria, uma perda de ritmo, um desaquecimento significativo”.       

“A gente tem uma perda da produção, uma queda da produção na passagem de agosto para setembro, também uma queda do número dos empregados e um importante aumento dos estoques indesejados”, citou o economista. “Os estoques não só aumentaram no mês, como se afastaram do desejado pelos empresários, há um acúmulo de estoques nesse período”.

“Esse acúmulo dos estoques indesejados aconteceu mesmo com uma queda da produção. Sinal de que a demanda surpreendeu negativamente os empresários”, reforçou.. “Uma das principais razões para a queda na demanda é a própria elevação das taxas de juros”, apontou Marcelo Azevedo. 

“[Com o] crédito mais caro por conta das taxas de juros, os consumidores começam a evitar certas compras, mas isso acaba se espalhando pela economia, as famílias começam a ter um pouco menos de renda, mais endividamento, às vezes até mais inadimplência; então a demanda, de uma forma geral, vai caindo e a indústria vem sentindo isso, como mostrou essa pesquisa, com uma queda da produção aliada a um acúmulo dos estoques indesejados”, completou Azevedo. 

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