O deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), um dos líderes da oposição na Câmara Federal, denunciou na sexta-feira (02), em sua rede social, os ataques sofridos pelo diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, e a sua demissão do cargo por Jair Bolsonaro.
“Ele foi atacado pelo presidente e pelo ministro do Meio Ambiente por fazer seu trabalho e monitorar o desmatamento da Amazônia”, afirmou Molon.
“Os dados mostram o que Bolsonaro quer esconder sob suas mentiras. Quem desinforma é inimigo da Ciência, pela qual tanto lutamos. Grave!”, acrescentou o parlamentar. Ricardo Galvão é um dos cientistas mais renomados do Brasil.
Galvão apontou a causa do aumento do desmatamento: “o que aconteceu com declarações do presidente Bolsonaro, ainda na campanha e depois que assumiu, passaram uma mensagem de que não vai mais ter punição. Aí as pessoas estão reagindo com base nessa mensagem que ele claramente passou”, disse o diretor do Inpe.
Quando começou a ser atacado por Bolsonaro e seus seguidores, Ricardo Galvão não se intimidou. “Eu sou um senhor de 71 anos, membro da Academia Brasileira de Ciências, não vou aceitar uma ofensa desse tipo. Ele [Bolsonaro] que tenha coragem de, frente a frente, justificar o que ele está fazendo” (v. HP 20/07/2019, Desmatamento: atitude de Bolsonaro é “pusilânime, covarde”, afirma diretor do Inpe).
O diretor do Inpe associa as pressões contra ele aos objetivos do governo de ampliar o desmatamento ilegal na Amazônia.
Em julho o monitoramento em tempo real do Inpe (sistema Deter-B) já mostrava que o desmatamento nos primeiros 15 dias de julho era o segundo mais extenso, desde que esse monitoramento é feito (2015). Houve um desmatamento de 981 km² na primeira metade de julho.
Apenas um dia depois, 19h de sexta-feira, a área desmatada passara para 1.209 km², uma extensão inédita em um único mês, 102% maior que em julho do ano passado.
O diretor do Inpe comentou: “O resultado deste mês de julho nos surpreendeu, mas o desmatamento da Amazônia é sempre mais intenso na época seca. Agora, naturalmente, o que aconteceu após as declarações do presidente Bolsonaro é que tudo se intensificou. “As pessoas estão reagindo com base nessa mensagem que ele claramente passou”, observou o diretor do instituto.
A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (REDE) também criticou a exoneração de Galvão. “O diretor do INPE não foi demitido por incompetência. Está sendo demitido por sua extrema competência, altivez e por dirigir uma instituição de Estado que prima pelo interesse público e por não se acovardar diante das ameaças da tríade (Ricardo Salles, General Augusto Heleno e Bolsonaro), que se levantou para intimidar e desmoralizar a instituição”, disse Marina.
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