Não foi em frente porque o general Mattis vetou. Em 2018 havia negado peremptoriamente: “de jeito nenhum”.
Em entrevista à Fox News, o presidente Trump confessou na terça-feira (15) que um plano de assassinar o chefe de Estado da Síria, Bashar al-Assad só não foi em frente porque o então chefe do Pentágono, general James Mattis, foi contra.
A questão da ordem de Trump de assassinato do presidente sírio já fora exposta pelo jornalista Bob Woodward em seu primeiro livro sobre o governo do bilionário (Fear, “Medo”, numa tradução livre), em 2018, mas havia sido peremptoriamente negado pela Casa Branca: “nunca havia sido sequer” contemplada.
“CHANCE DE MATAR”
Na entrevista, Trump disse que “tinha uma chance de matá-lo [ao presidente sírio Assad] se quisesse e Mattis foi contra […] a maioria dessas coisas”.
Ele classificou Mattis de “um geralmente altamente superestimado” e acrescentou que poderia “ter vivido de qualquer maneira com isso [o assassinato de um chefe de Estado estrangeiro, dentro do próprio país]”.
Como se isso justificasse cometer um crime de guerra, Trump alegou considerar que Assad “certamente não era uma boa pessoa”. Uma confissão de que, se não fosse pelo senso de realidade de Mattis – que entendia bem o que isso significaria com os russos em solo sírio a convite do governo sírio -, Trump teria levado adiante o assassinato.
Note-se que, na Guerra do Iraque, Mattis ganhou o apelido de “Mad Dog”, Cachorro Doido.
Aliás, o que Mattis não o deixou fazer em 2017 foi exatamente o que Trump fez no início deste ano, ordenando o assassinato em uma emboscada, em um país vizinho, do principal líder militar iraniano, general Suleimani, que fora atraído ao Iraque para receber uma resposta dos sauditas sobre uma negociação visando a paz.
“Não, eu não me arrependo disso”, acrescentou Trump. Ainda sobre Mattis, Trump disse que ele “era um general terrível, um péssimo líder”.
Na época do primeiro livro de Woodward, Trump havia garantido que “de modo nenhum” seria verdade que teria ordenado o assassinato do presidente de outro país.
“Não, o livro é ficção. Ouvi em algum lugar onde disseram o assassinato do presidente Assad pelos Estados Unidos. […] O livro é uma ficção total, assim como ele escreveu no passado sobre outros presidentes”, disse Trump durante uma entrevista coletiva na Casa Branca em setembro de 2018.
O plano de assassinato usava como pretexto a provocação montada em Khan Shaykhun, em Idlib, por terroristas, para atribuir ao governo sírio a morte de civis em ataque com armas químicas. Depois do veto de Mattis, Trump optou por um ataque contra a Síria com mísseis, que foi classificada pelo ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, como uma violação da lei internacional.
A ira de Trump contra Mattis se explica: no auge dos protestos contra o linchamento do negro George Floyd, o velho general jogou um papel decisivo para deter a escalada no uso de forças militares contra manifestantes, que o presidente bilionário esboçou e não conseguiu sustentar.
Dizem que Trump já mentiu 20 mil vezes durante seu governo. Com essa confissão, agora só falta a verdade vir à tona em outras 19.999 declarações e tuitadas.