Ganhos astronômicos dos planos de saúde disparam e atingem R$ 18 bi em 9 meses

Planos de saúde abusam do consumidor (Foto: Elza Fiúza - Agência Brasil)

Isso foi proporcionado pelos ganhos obtidos com remunerações de aplicações financeiras, pelo aumento da Selic (taxa básica de juros) do BC, hoje em 15%, além dos aumentos nas mensalidades que seguem abusivos

As operadoras de planos de saúde registraram um astronômico lucro líquido de R$ 17,9 bilhões no acumulado de janeiro a setembro de 2025, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

O resultado supera o recorde de R$ 15,9 bilhões no ano de 2020 (alcançado em um período de pandemia de Covid-19) e é o maior desde o início da série histórica, em 2018.

As operadoras médico-hospitalares alcançaram lucro líquido de R$ 17,2 bilhões, sendo o principal segmento que contribuiu para o lucro total do setor.   

O lucro astronômico das operadoras se dá em meio aos ganhos obtidos com as remunerações de aplicações financeiras, proporcionado pelo aumento da Selic (taxa básica de juros) do Banco Central (BC), hoje em 15%, além dos aumentos nas mensalidades que seguem abusivos, do rebaixamento da qualidade na prestação dos serviços e das negativas de cobertura a usuários – muitos deles em situação de vulnerabilidade por estarem com problemas graves de saúde.

As receitas do setor giram em torno de R$ 287,3 bilhões nos nove primeiros meses deste ano. Neste período, os ganhos com as aplicações financeiras somaram R$ 11,1 bilhões, sendo 60% acima do registrado no mesmo período do ano passado.  A soma também é a maior desde 2018.

Em nota, a ANS afirma que “em um cenário de taxas de juros elevadas, as aplicações financeiras das operadoras médico-hospitalares totalizaram R$ 134,9 bilhões ao fim de setembro de 2025, sendo uma fonte relevante de receita adicional”.  

De acordo com a ANS, o Bradesco, SulAmérica e Hapvida concentraram 43% do resultado do lucro operacional (excluído os ganhos financeiros e impostos) de R$ 9,3 bilhões – destes R$ 8,3 bilhões vieram das operadoras médico-hospitalares – entre janeiro e setembro deste ano. 

O lucro operacional no período é 140% superior ao obtido no mesmo período do ano passado e também o maior em cinco anos.

A ANS afirma que “apesar da concentração de resultados em algumas operadoras de grande porte, 75,1% dos entes regulados (590 entidades) encerraram o período com resultado líquido positivo, um aumento de 8,37 pontos percentuais sobre o ano anterior”.

Os planos de saúde também obtiveram ganhos vindos da redução de sinistros, que encerrou o período em 81,9%, o que é 2,4 pontos percentuais abaixo que o registrado em igual período de 2024. Essa redução foi possível principalmente pela recomposição das mensalidades, que superou a variação das despesas assistenciais, uma situação observada desde 2023.

Os planos de saúde coletivos correspondem a mais de 80% do chamado “mercado da saúde” no Brasil. Este modelo de contrato (coletivos por adesão ou corporativos) é reajustado entre as seguradoras e os contratantes, ou seja, sem limites de reajustes definidos pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) – que regula os planos individuais.

O Instituto de Defesa de Consumidores (Idec) explica que “esses planos se mostram atraentes para consumidores por serem mais baratos – mas é só fachada. Isso porque depois de contratar o plano coletivo, a bomba-relógio do reajuste explode no colo do consumidor”.     

Os planos de saúde figuram no topo do ranking de queixas e reclamações de serviços, apurados pelo Idec, com 29,10% do total. As denúncias são de que os operadores de planos de saúde estão desrespeitando princípios do Código de Defesa do Consumidor e normas do setor de saúde suplementar.

“Os reajustes e o cancelamento unilateral são formas que as empresas usam para expulsar os consumidores justamente quando eles mais precisam. Quando as despesas assistenciais de um contrato aumentam, fazem de tudo para que a pessoa desista de pagar seu plano ou, no limite, cancelam os contratos. Muitas vezes excluindo pessoas idosas, crianças atípicas, pessoas com doenças raras e milhares de outros consumidores”, afirma o Idec.

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