Garimpeiros ilegais que se reuniram com o ex-presidente Jair Bolsonaro para liberação de exploração em terras indígenas, durante o antigo governo, financiaram e participaram dos movimentos golpistas que não reconheceram as eleições presidenciais e tentaram derrubar o presidente Lula, apontam relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Os relatórios, produzidos em março de 2023, foram obtidos pelo site Congresso em Foco.
A Abin rastreou a origem de maquinários encontrados em operações contra o garimpo ilegal em terras indígenas e cruzou com dados sobre os financiadores dos movimentos antidemocráticos, descobrindo que empresários e lobistas fizeram parte dos dois grupos.
Os nomes apontados estão ligados ao lobby que tentou, durante o governo Bolsonaro, a aprovação do PL 191/20, que liberava o garimpo dentro de terras indígenas.
O Projeto de Lei, apresentado inicialmente pelo governo Bolsonaro, foi arquivado por ordem de Lula.
Enric Laureano, filho do fazendeiro investigado por desmatamento ilegal, Início Lauriano, é considerado um dos principais articuladores do Projeto de Lei 191, enquanto consultor da Associação Nacional do Ouro (Anoro).
A relatora da CPMI do Golpe, Eliziane Gama, afirmou que Enric Lauriano participou do acampamento golpista em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, e fez parte do esquema de financiamento.
A empresa usada para receber doações foi a R.P. Cunha Informática, de Ricardo Pereira Cunha. O empresário também é dono da Mineração Carajás Limitada.
Enric, seu pai Inácio e Ricardo Cunha eram membros do grupo Direita Xinguara, que fez manifestações a favor de Jair Bolsonaro no Pará.
“Essas conexões evidenciam o vínculo entre a prática de ilícitos ambientais e atuação de grupos extremistas contrários à eleição para a Presidência da República em 2022. Além de permitir identificar redes de práticas delituosas, abrangendo diversas atividades, atores e verbas oriundas da exploração ilegal de recursos naturais”, afirmou a Abin no relatório.
Outros garimpeiros que estão associados ao movimento golpista e ao lobby são ligados à Cooperativa Mista de Mineradores do Alto Tapajós (Cooperalto). É o caso de Roberto Katsuda, diretor da cooperativa, Patrícia Ribeiro Silva e Vilelu Inácio de Oliveira, diz o documento.
Katsuda financiou a estrutura de lobby que era encabeçada pelo deputado estadual do Pará, Wescley Silva Aguiar, conhecido como Wescley Tomáz. Os dois se uniram com o advogado Fernando Brandão, dono do maior escritório de Itaituba, e o engenheiro florestal Guilherme Aggens, em uma comissão pró-garimpo.
De acordo com a Abin, “desde 2018, o grupo já realizou diversas reuniões com parlamentares e ministros em Brasília, inclusive com a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro, para liberação do garimpo em unidades de conservação e terras indígenas. Por influência dessa comissão foi proposto o projeto de lei 191/2020, que visa regulamentar o garimpo em áreas de proteção ambiental”.
A CPMI do Golpe pediu ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) um relatório sobre as movimentações de Cooperalto.