Uma dolorosa imagem tomada depois do bombardeio saudita de uma festa de casamento no Iêmen, no ultimo domingo, mostra o garoto segurando a camisa de seu pai morto. Mas é uma aposta segura de que ele não se tornará a face desta guerra na mídia predominante.
Fotos e filmes foram feitos após o bombardeio que aconteceu em uma aldeia remota na província nordestina de Hajjah. Aparecendo estar nos seus sete ou oito anos, o garoto se agarra com força ao corpo de um homem e repete “não, não, não”, enquanto pessoas do resgate tentam tirar o garoto do local. Pessoas no local disseram aos repórteres da rede Rússia Today que o garoto insistia que seu pai estava apenas dormindo e logo se levantaria para levá-lo a casa deles que não ficava longe da que foi bombardeada.
O mais provável é que o garoto tenha ficado lá por horas seguidas a julgar pelo fato de que algumas imagens foram tomadas à noite e outras ao amanhacer. Um fotógrafo da RT disse que o corpo do pai do garoto foi o ultimo a ser removido da cena e que o filho ficou lá até o final.
Aqui uma pequena previsão. Este garoto não vai surgir em nenhuma das reportagens midiáticas, independente de quão comovedores sejam sua delicada figura e seu desafio infrutífero. Nenhuma âncora bem paga e de perfeito make-up dirá em voz embargada como não pode fitar o quadro. Nenhum reporter irá confrontar algum ministro saudita, mostrando-lhe fotos e denunciando: “Isto é um crime de guerra senhor”. No Conselho de Segurança da ONU sua tragédia tragédia não será usada para denunciar um regime criminoso, que mata civis com impunidade.
Uma criança precisa ser vítima de bombardeio em outro país para ter este tipo de atenção no Ocidente. Em algum lugar, onde as bombas que matam civis não são fornecidas pelos EUA ou Inglaterra. Onde os sinais óbvios de desnutrição deixariam de ser uma acusação silenciosa contra a Arábia Saudita, que bloqueia o suprimento de alimentos, medicamentos e combustível para as pessoas que se opõem à invasão. Este garoto – para ter tal atenção – deveria estar na Síria, não no Iêmen.
A mídia predominante tem uma abordagem muito seletiva sobre as crianças vítimas de violência. Os cerca de 50 mortos no casamento iemenita foram simplesmente adicionados a uma estatística, talvez chegando ao mais recente informe da ONU ou da Anistia Internacional. Não deverão afetar a habilidade da Arábia Saudita de adquirir armas ocidentais, receber apoio de inteligência para bombardeios da mesma origem, ou de terem seus caças abastecidos no ar.
Imaginamos como este garoto será ao crescer.
ALEXANDER ANTONOV
*a matéria foi originalmente publicada no portal RT