“É claro que o gasto de educação é um elemento importante que não deve ser comprimido”, afirmou o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI
O diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi, avalia que o investimento em educação é um elemento importante, “que não deve ser comprimido”.
“O Estado brasileiro, se você somar nas três dimensões, ele custa R$ 3,3 trilhões”, comentou. “Tem muita coisa importante e não pode falar que tem que cortar qualquer tipo de gasto público, vamos cortar gasto público em educação”, disse Lucchesi, se referindo aos cortes anunciados pela área econômica do governo.
“Na sociedade do conhecimento, considerando a produtividade do trabalho que nós temos e a necessidade de modernizá-lo, é claro que o gasto de educação é um elemento importante que não deve ser comprimido”, afirmou Lucchesi.
“O mercado financeiro, o mercado de capitais moderno e sofisticado no Brasil é um elemento impulsionador do desenvolvimento, certamente. Mas nesse rentismo sobrelevado, você cria uma rentabilidade que não é eficiente para a sociedade brasileira”, criticou Lucchesi, ao participar do debate “Desenvolvimento e crescimento econômico podem existir sem a indústria?”, promovido pelo programa “Dois Pontos”, apresentado por Roseann Kennedy, da Coluna do Estadão, na quarta-feira (30/10).
JUROS ELEVADOS
Ao criticar os juros muito elevados no país, Lucchesi alertou ainda que a “concentração bancária” existente no Brasil “é uma distorção, uma ineficiência sistêmica”.
“Nós temos agora, a partir das decisões que foram tomadas na última reunião do Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central], que aumentou ainda mais o juro no Brasil, o segundo maior juro real do mundo, a nossa concentração bancária é uma distorção, uma ineficiência sistêmica. E o Brasil gasta – se nós entendemos que a taxa de juros está fora do lugar, está um e meio por cento acima do que deveria estar – R$ 60 bilhões por ano de impacto sobre o Tesouro. Daria para movimentar uma série de ações estratégicas”, observou.
Lucchesi afirma que “não tem como o Brasil, uma sociedade complexa, sofisticada, nós querermos ter um crescimento sustentável a longo prazo sem o desenvolvimento industrial, sem retomar a atividade industrial brasileira”.
CRESCIMENTO MEDÍOCRE
“Nos últimos dez anos, o crescimento brasileiro foi medíocre, meio por cento. A agricultura cresceu 3,3%. O setor de serviços cresceu 0,8% e a indústria de transformação decresceu 1.8 e, é claro, que com isso, nós perdemos muitos empregos de qualidade”, criticou.
“O que antes impulsionava o desenvolvimento brasileiro era a industrialização”, destacou Lucchesi, lembrando a polêmica entre o empresário Roberto Simonsen, primeiro presidente da CNI, e o economista Eugênio Gudin.
“No debate, Eugênio Gudin disse, ‘olha o Brasil tem que se concentrar nas suas vantagens comparativas, devemos focar na agricultura’ e Roberto Simonsen disse: ‘olha, a gente precisa se industrializar, porque nenhum país se desenvolveu no mundo sem se industrializar’, lembrou Lucchesi.
“É o país que mais se desenvolve durante 50 anos, passando por vários regimes: começa ali na Revolução de 30 e segue até a crise que nós tivemos do esgotamento do modelo de financiamento com endividamento externo”.
“O que antes impulsionava o crescimento do Brasil era a industrialização”, destacou o empresário. “O Brasil tem uma taxa de crescimento do PIB de 7% ao ano, é o país que mais cresce nesse período e também com ganho de produtividade de 4% ao ano, durante 50 anos, extraordinário. Depois disso, a gente capota. A gente capota com um crescimento medíocre nas décadas perdidas dos anos 80, dos anos 90”.
MAIS INVESTIMENTOS PÚBLICOS
No debate, o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI também defendeu que o Brasil deve alocar mais investimentos no seu parque industrial, que ao longo das últimas décadas regrediu e envelheceu, e defendeu o papel do BNDES, o banco de fomento indutor do desenvolvimento.
Para Rafael Lucchesi, olhando o histórico do Brasil, “como um país de desenvolvimento industrial tardio e de desindustrialização precoce, o quão importante são as agendas puxadas pelo Estado”.
“O Brasil fez uma escolha importante de ter um agronegócio competitivo, essa é uma escolha de futuro que deu certo. Nós precisamos fazer isso com a indústria também”, defendeu.
“A agricultura e a pecuária representam mais ou menos 7% do PIB, pagam muito pouco imposto, 0,8% de imposto. Recebem muitos subsídios e incentivos. Se nós pegarmos a agricultura e a pecuária, eles pagam R$ 12 bilhões de tributos e recebem aproximadamente R$ 100 bilhões, quando nós somamos incentivos e subsídios”, comentou.
O empresário também destaca que para evolução do agronegócio e do setor de serviços a indústria tem um papel muito importante.
“O progresso técnico na agricultura, por exemplo, ele se dá como? questiona Lucchesi. “Com máquinas e implementos, isso é indústria. Se dá com fertilizantes defensivos, também indústria. A agricultura de precisão (chip, satélite etc.), indústria. Biotecnologia, também indústria. O progresso técnico na agricultura é exógeno e vem de cadeias produtivas industriais, que são mais longas, mais complexas, pagam melhores salários”, observou.
ANTÔNIO ROSA