General revelou toda a escalada de golpe de Estado, abortada pela ação do novo governo. O general afirmou se arrepender de não ter apressado as mudanças no GSI, órgão que estava infiltrado de bolsonaristas
Na primeira fase da sessão da CPMI desta quinta-feira (31), o ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Gonçalves Dias, deixou claro que foram os bolsonaristas que invadiram e depredaram o Planalto e que, depois do fracasso da tentativa do golpe de Estado, eles procuram agora inverter a verdade e acusar o governo eleito pela tentativa de golpe.
O militar apontou a estrutura que, centralmente, garantiria a segurança das sedes do poder central e que falharam. “O consórcio de ações e inações das forças policiais que não foram eficazes no cumprimento de atividades previstas no PAI [Protocolo de Ações Integradas, elaborado pela área de segurança do governo do Distrito Federal] levou àqueles eventos”, disse o general.
O militar explicou que várias das linhas de defesa da “Operação Escudo”, responsável pela defesa do Planalto, era de responsabilidade da Secretaria de Segurança do DF. Todas elas falharam e eram de responsabilidade de Anderson Torres, então secretário de Segurança do DF, intimamente ligado a Bolsonaro.
Durante a oitiva, ficou evidente que praticamente toda a estrutura do GSI era composta por indicados pelo general Heleno, um claro incentivador do golpe de Estado. Questionado sobre as razões pelas quais não fez as mudanças, G. Dias disse que não teve tempo, mas que se soubesse das intenções dos integrantes do órgão teria apressado as referidas mudanças. Ele fez questão de destacar que a Instituição Forças Armadas não se envolveu e que pessoas que macularam o Exército isoladamente devem se punidas.
“Tendo conhecimento agora da sequência dos fatos, também da ineficiência dos agentes que atuavam na execução do Plano Escudo, seria mais duro do que fui na repressão. Faria diferente, embora tenha plena certeza de que envidei todos os esforços e ações”, disse o general Dias.
Ele descreveu com detalhes a estrutura que deveria ter sido montada para proteger a Praça dos Três Poderes, com destaque para o papel da Polícia Militar do Distrito Federal. As imagens mostradas pela relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), mostram a Praça dos Três Poderes completamente vazia. Não por outro motivo, sete comandantes da PM-DF estão presos acusados de omissão durante os atos terroristas de 8 de janeiro.
O general afirmou que abriu sindicância para investigar quem facilitou as ações dos terroristas dentro do Palácio do Planalto. Ele contestou os bolsonaristas que advogavam demagogicamente que ele, isoladamente, deveria ter agido com mais firmeza contra os invasores.
O general mostrou que, na ausência das forças que deveriam estar presentes e não estavam, ele manteve-se o mais calmo possível. “Não adiantava sair batendo”, disse o militar. Fica claro no depoimento de G. Dias que diversos integrantes do GSI, indicados pelo general Heleno, estavam agindo em sintonia com os golpistas.
Os golpistas cinicamente tentaram durante toda a manhã convencer o país que quem tentou dar um golpe de Estado foi o governo vitorioso. A farsa dos bolsonaristas era tão grande e inverossímil que bolsonaristas que pregaram abertamente o golpe contra a vitória de Lula, afirmaram que o ministro da Justiça Flávio Dino, responsável pela intervenção federal que colocou fim ao golpe, era o responsável pela depredação patrocinada pelos terroristas seguidores de Jair Bolsonaro.
A deputada Jandira Feghalli (PCdoB-RJ) lembrou que os bolsonaristas colocaram bomba no aeroporto e, agora, na CPI, tentam afirmar que quem tentou dar o golpe foi o governo Lula. A deputada lembrou que os integrantes do GSI eram todos vinculados ao general Heleno e que a falha do general foi não ter demitido os herdeiros do seu antecessor. Jandira destacou a demora do envio de tropas de reforço solicitado pelo general ao Comando do Planalto.
O deputado Rogério Correa (PT-MG) fez um relato completo sobre o perfil do general Penteado, que ocupava o cargo de secretário-executivo do GSI e que sabotou as medidas de defesa do Planalto. Várias declarações do general Penteado, defendendo o golpe de Estado, foram apresentadas pelo parlamentar. Ele apontou a necessidade de que esses militares sejam ouvidos pela CPI para explicar suas atitudes.