Gonçalves Dias, que estava à frente do GSI no dia 8 de janeiro, prestou a informação durante depoimento na CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal
O general Gonçalves Dias, em depoimento na CPI dos Atos Antidemocráticos, da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), nesta quinta-feira (22), o general Gonçalves Dias destacou aquilo que já foi largamente divulgado e que está inscrito na legislação vigente: a segurança na Esplanada dos Ministérios e na Praça dos Três Poderes são de responsabilidade da Polícia Militar do Distrito Federal.
Dias enfatizou que os policiais militares do DF que estavam no local – e que estavam subordinados ao então secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, à época, gozando férias nos Estados Unidos, depois de desmontar o plano de contenção dos golpistas.
O militar esclareceu que a PM simplesmente não cumpriu seu papel de evitar a invasão e a depredação do Palácio do Planalto no fatídico dia 8 de janeiro, o que levou, inclusive, à intervenção federal na segurança pública do DF, determinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e, posteriormente, ao afastamento, por 90 dias do governador Ibaneis Rocha e à prisão de Torres, ex-ministro de Bolsonaro.
“O bloqueio na frente do Palácio do Planalto, que deveria ter sido feito pela PMDF não havia sido montado”, disse Gonçalves Dias em pronunciamento na CPI antes do início das perguntas dos deputados distritais que integram a comissão. Ele era ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no dia 8 de janeiro, quando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes da República.
“Eu estava desarmado e à paisana. Jamais esperei encontrar aquela situação”.
Aos deputados da CPI, o general argumentou que pouco pôde fazer contra os invasores do Planalto porque foi pego de surpreso, tanto que seguiu para o palácio presidencial sem arma e uniforme.
“Assisti a tudo isso (invasão e depredação do prédio) no térreo do Palácio do Planalto. Claro que tive ímpeto de reagir. Contudo, concentrei-me na minha missão: não deixar que defasassem o núcleo central do poder palaciano, o gabinete do Presidente, que fica no 3º andar. Eu estava desarmado e à paisana. Jamais esperei encontrar aquela situação”, afirmou.
Gonçalves Dias informou, ainda, que a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, então comandada por Anderson Torres, ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro, não convidou o GSI para a reunião de elaboração do Plano de Ações Integradas (PAI) realizada em 6 de janeiro devido à chegada de bolsonaristas a Brasília para atos contra a recente posse de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República.
“O PAI determinava que deveria haver bloqueio e revista dos manifestantes na altura do Buraco do Tatu, onde fica a Rodoviária do Plano Piloto (terminal de ônibus em frente à Esplanada dos Ministérios). Deveria existir, depois dali, um bloqueio total que impedisse o acesso à Alameda das Bandeiras e Praça dos Três Poderes. Ele aparentemente não existiu, ou foi tênue ou inexpressivo”, acrescentou o general.
Gonçalves Dias pediu demissão após a divulgação de um vídeo em que aparece no Palácio do Planalto, durante a invasão. “Sai [do GSI] por causa da divulgação imprecisa e desconexa de vídeos gravados no interior do Palácio do Planalto durante a invasão ao prédio, durante o dia 8 de janeiro”, esclareceu durante seu pronunciamento na CPI antes do início das perguntas dos parlamentares.
Em nota, o GSI justificou a presença do general no Palácio do Planalto e afirmou que as imagens mostram a “atuação dos agentes de segurança que foi, em um primeiro momento, no sentido de evacuar os quarto e terceiro pisos do Palácio do Planalto”.
Na ocasião, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, após conhecer as imagens em que aparece o general, o isentou de qualquer responsabilidade e descartou qualquer hipótese de Gonçalves Dias estar “mancomunado” com os invasores.