
O general Carlos Alberto Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, disse que é “inaceitável” o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usar taxas contra produtos brasileiros para interferir no processo em que Jair Bolsonaro é réu por tentativa de golpe.
“O problema é você aceitar uma vinculação de problema tarifário com uma decisão pessoal. Isso aí não é da Justiça, é um negócio inaceitável. Então, o que nós estamos assistindo é um absurdo, simplesmente absurdo”, afirmou o general em entrevista ao site Opera Mundi.
A família Bolsonaro celebrou as taxas e as sanções dos EUA contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O filho de Jair, Eduardo Bolsonaro, abandonou a Câmara dos Deputados para viver nos Estados Unidos bajulando Trump e conspirando contra o Brasil.
“Você vai para outro país para conseguir alterar uma decisão judiciária… Se o juiz disser que tá certo ou que tá errado, vamos fazer a nossa briga por aqui, né? Faz o que bem entender, mas não solicita uma interferência dessas”, criticou Santos Cruz.
Santos Cruz esteve no governo no primeiro semestre de 2019 e afirma que Jair Bolsonaro “não tinha preparo” para ser presidente da República. “O ex-presidente Bolsonaro, ele ganhou a eleição, mas, infelizmente, pela minha convivência, ele não estava preparado e não tinha conhecimento para a função”, comentou.
O general falou que Jair Bolsonaro “se dedicou mais a coisas espetaculares, com declarações bombásticas, brigas e atritos com a imprensa” do que em governar o país e manter a “ordem social”.
“Você tem que manter a tranquilidade social, a união do país e um bom ambiente de trabalho com empresariado. Você não pode ficar brigando com a imprensa. Mas essa coisa espetacular, ela cativa um bocado de gente e ele aproveitou essa oportunidade para governar”.
Na avaliação do general, a vida de Jair Bolsonaro não é de “grandes realizações, é mais de coisas espetaculares”.
Para ele, o ex-presidente é o “grande responsável” pela mobilização de seus apoiadores que pediam um golpe de Estado. Se Jair tivesse agido de forma apropriada, “você não tinha planejamento mirabolante, acampamento na frente do quartel, você não tinha 8 de janeiro, você não tinha nada”.
“Quando teve a reeleição, o Bolsonaro perdeu e perdeu mesmo. Isso é claro. Até a pessoa mais bolsonarista sabe que foi ele quem fez besteira e perdeu. Você não pode ter um presidente em que num momento de crise que morre um monte de gente dizer que ‘eu não sou coveiro’. É obrigação do presidente manter a paz social”, disse em referência ao período da pandemia de covid, quando mais de 700 mil pessoas morreram.