O general Carlos Alberto dos Santos e Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, condenou a tentativa de Jair Bolsonaro de rebaixar o papel das Forças Armadas e envolvê-las no processo eleitoral para contar votos.
Santos Cruz, filiado ao Podemos, afirmou que a ação de Bolsonaro é “politicagem mais baixa possível da exploração das Forças Armadas”.
Bolsonaro aviltou a atuação das Forças Armadas e sugeriu que elas fizessem uma “contagem paralela” à Justiça Eleitoral, tentando desacreditá-la como órgão confiável de lisura das eleições.
“Imagine as Forças Armadas fazendo contagem paralela de votos? O que é isso? Isso aí é brincadeira. Isso aí é simplesmente para criar confusão. Não é papel das Forças Armadas, não é tarefa das Forças Armadas. Tem Tribunal Eleitoral para isso”, afirmou Santos Cruz em entrevista ao jornal Valor.
O general repudiou a contagem paralela de votos sugerida por Bolsonaro e apoiou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“As Forças Armadas não têm nada a ver com história de eleição. Eleição é responsabilidade do TSE”, enfatizou.
Na sua intenção golpista, Bolsonaro chegou a dizer ainda que existiria uma sala no TSE para uma ‘falsa apuração’.
“Isso aí é conveniente para quem gosta de viver no ambiente de briga”, disparou Santos Cruz em referência a Bolsonaro. “Ou para quem não quer discutir os assuntos sérios que a gente tem. Para quem não sabe administrar, aí é um bom negócio”, disse o general.
“No caso, as Forças Armadas foram convidadas para participar, com outros, de uma avaliação do sistema, para demonstrar que o sistema é bom e confiável. Depois as Forças Armadas fizeram umas perguntas técnicas. As Forças Armadas não têm nada a ver [com eleição], então é técnico o negócio. Eu não sei como foram as perguntas técnicas. Também não sei quais foram as respostas do TSE. O problema é que a partir daí você tem uma exploração política muito forte”, afirmou.
Para Santos Cruz, uma possível contagem “paralela” geraria apenas confusão, e desviaria os assuntos pertinentes da administração.
Na semana passada, Bolsonaro, para tumultuar a eleição brasileira e a Justiça Eleitoral, sugeriu que o computador do TSE que faz a contagem de votos deveria ser ligado ao dispositivo das Forças Armadas, para supostos fins de ‘verificação’.
Segundo ele, haveria “um cabo que alimenta a sala secreta do TSE”, e deveria ser “feita uma ramificação, um pouquinho à direita, para que tenhamos do lado um computador das Forças Armadas para contar os votos no Brasil”.
Bolsonaro declarou, ainda, desonestamente, em uma live, que o TSE não ouviu as propostas das Forças Armadas para as eleições.
Os militares foram convidados, assim como as universidades e outras instituições do país, para uma comissão de acompanhamento da lisura do processo eleitoral e do sistema de urnas eletrônicas, a mesma que Bolsonaro ataca e já tentou, sem sucesso, substituir.
As dúvidas levantadas pelos militares que participam da comissão do TSE foram todas elas respondidas pelos ministros em dois documentos, um de sessenta e nove páginas e outro de seiscentas e trinta e cinco páginas. A fala de Bolsonaro, portanto, insinuando que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não teria dado atenção devida a essas dúvidas dos integrantes das Forças Armadas que participam da comissão é uma grosseira manipulação dos fatos.
Na live, ele falou várias vezes em “nossas propostas”, tentando confundir as dúvidas dos integrantes do Exército, que foram respondidas pelo TSE, com as suas opiniões estapafúrdias sobre as urnas eletrônicas.
O presidente do TSE, ministro Edson Fachin, rebateu as insinuações e ataques de Bolsonaro ao processo eleitoral. “A Justiça Eleitoral é um patrimônio democrático imprescindível. Atacar a Justiça Eleitoral é atacar a democracia”, disse o ministro. “O voto é secreto e o processo eletrônico de votação; conquanto sempre suscetível de aprimoramentos, é reconhecidamente seguro, transparente e auditável. E são imprescindíveis paz e segurança nas eleições, porquanto não há paz sem tolerância e sem respeito mútuo”, afirmou o presidente do TSE.
Como disse o general da reserva, Bolsonaro quer desviar o foco dos graves problemas que atingem o Brasil neste momento, frutos do seu desastroso governo.
O país passa pela maior crise econômica e social da história, com desemprego alarmante, inflação e carestia em disparada, castigando o bolso do povo brasileiro e trazendo a fome para dezenas de milhões de pessoas. Sem falar na sua calamitosa condução da pandemia que ocasionou a morte de mais de 660 mil brasileiros.
Nada disso incomoda Bolsonaro, insensível e calado para esses problemas.
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