Milhares de pessoas foram até à Igreja Fonte de Louvor, em Houston, no Texas, na segunda-feira (8) para homenagear o cidadão negro George Floyd, cujo linchamento por um policial branco em Minneapolis desencadeou a maior revolta contra o racismo nos EUA desde o fim da segregação racial, há 50 anos.
O enterro de Floyd será amanhã, ao lado do túmulo de sua mãe, a quem ele chamou quando agonizava sob o joelho do racista de distintivo Derek Chauvin e clamou por onze vezes que “não consigo respirar”. Nascido na Carolina do Norte, Floyd havia sido criado em Houston, onde passou a maior parte de sua vida. Estava em Minneapolis há pouco mais de cinco anos.
No adeus a Floyd, estiveram o governador republicano do Texas, Greg Abbott, a senadora por Minnesota, Amy Klobuchar, o líder da luta pelos direitos civis, reverendo Jesse Jackson, o chefe de polícia de Houston, Art Acevedo, e artistas como o ator Kevin Hart e os rappers Master P e Ludacris.
Estavam presentes, ainda, familiares de outros cidadãos negros vítimas de linchamento nos últimos anos, cujos entes queridos se tornaram conhecidos no país inteiro, como Eric Garner, Michael Brown, Ahmaud Arbery e Trayvon – e que até hoje buscam por justiça.
Em um palco atrás do caixão dois murais idênticos mostraram Floyd usando um boné preto que dizia “Houston” e asas de anjo desenhadas atrás dele.
Havia uma longa fila sob o sol escaldante, e as pessoas, muitas com camisetas com a frase que levantou a América “não consigo respirar” ou a foto de Floyd, tinham apenas alguns segundos para uma prece silenciosa ao som de música gospel diante do caixão dourado, envolto por flores brancas.
“Isso só dói”, disse Philonise Floyd, irmão do assassinado, soluçando. “Vamos conseguir justiça. Nós vamos pegá-lo [o racista Chauvin]. Não vamos deixar essa porta se fechar”, reiterou à Associated Press.
Algumas pessoas cantavam “Lean on Me”, o hino à amizade e solidariedade de 1972, de Bill Withers: “você só tem de me chamar, irmão, quando você precisar de uma mão/todos nós precisamos de alguém em quem se apoiar”. Na quinta-feira (4), uma marcha com 60 mil pessoas em Houston havia homenageado Floyd.
Acevedo, o chefe de polícia que mandou o recado a Trump de que, se não podia dizer nada “construtivo”, que “calasse a boca”, ergueu o punho ao entrar na igreja e abraçou a muitos na fila.
O governador Abbott, um dos primeiros a ver o caixão, usava uma gravata listrada de ouro e vermelho, as cores da escola de Houston onde Floyd estudou, e onde foi um jogador de futebol americano de destaque. “George Floyd vai mudar o arco do futuro dos Estados Unidos. George Floyd não morreu em vão. Sua vida será um legado vivo sobre a maneira como a América e o Texas respondem a esta tragédia”, afirmou.
Como relatou a AP, muitas pessoas dirigiram por horas para poderem participar da homenagem a Floyd. Outros, o conheciam desde criança.
Ao se completarem duas semanas do brutal assassinato, o martírio de Floyd impulsionou milhões de pessoas nos EUA, em boa parte, brancas, a se erguerem contra a brutalidade e o racismo. A ponto de o governo Trump ter de recuar, depois de ter se declarado o “presidente da lei e da ordem”, ensaiado jogar tropas contra os manifestantes, mas acabou impedido tanto pela amplitude dos protestos, quanto pela dissensão militar.
CONTRA O RACISMO, CONTRA O FASCISMO
No mundo inteiro, manifestações repudiam o racismo e a brutalidade policial, isolam arroubos fascistas e desmoralizam a pretensão do império de dar aulas a todos sobre ‘Direitos Humanos’.
Como disse a pequena Gianna, a filha de Floyd, “papai mudou o mundo”. E, na síntese muito apropriadamente proferida pelo reverendo Al Sharpton, o brado “não consigo respirar” e “vidas de negros importam” – entoado por milhões, negros, brancos, latinos, de forma inédita -, tem como conclusão o “tire seu joelho dos nossos pescoços”.