“Dos R$ 215 bilhões pagos em dividendos aos acionistas em 2022, R$ 95 bilhões foram para o George Soros e fundos abutres”, apontou o ex-presidente da Aepet, Fernando Siqueira. Para ele, Lula está certo quando critica essa situação
O engenheiro Fernando Siqueira, ex-presidente da Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobrás), afirmou, nesta terça-feira (12), em entrevista ao HP, que a gritaria de parte da mídia contra a decisão da Petrobrás sobre a divisão dos dividendos é explicada, segundo ele, porque ela [a mídia] “defende o interesse do sistema financeiro internacional”.
Ele lembrou que “em 2022, no governo Bolsonaro, a Petrobrás distribuiu absurdos R$ 215 em dividendos”. Esse montante, destacou Fernando, “incluiu a venda de ativos subfaturados como se fosse lucro”. O especialista denunciou também que, deste valor total pago em dividendos aos acionistas, “R$ 95 bilhões foram para o George Soros e fundos abutres”. Segundo ele, 44% dos dividendos foram para a bolsa de Nova Iorque e “os acionistas privados receberam R$ 136 bilhões”.
Siqueira destacou, ainda, que é mentira quando a mídia afirma que o governo central é o principal acionista da Petrobrás. “Até o governo Fernando Henrique Cardoso, o governo realmente detinha 84% do capital social total da Petrobrás. Ele vendeu 36% das ações na bolsa de Nova Iorque por irrisórios US$ 5 bilhões no ano 2000. Como o dólar valia R$ 1,5 na época o valor em reais foi de R$ 8 bilhões”, denunciou o dirigente da Aepet. Confira a entrevista na íntegra!
ENTREVISTA
HORA DO POVO: Como você está vendo as críticas feitas nestes últimos dias à decisão de Petrobrás de não fazer o pagamento de dividendos extras para seus acionistas?
FERNANDO SIQUEIRA: A mídia, como sempre, defende o interesse do sistema financeiro internacional. No caso dos dividendos é mais um capítulo. Senão, vejamos. Até o governo FHC, o governo detinha 84% do capital social total da Petrobrás. Ele vendeu 36% das ações na bolsa de Nova Iorque por irrisórios US$ 5 bilhões no ano 2000. Como o dólar valia R$ 1,5 na época o valor em reais foi de R$ 8 bilhões. Pouco depois o valor acionário da Companhia, na Bovespa atingiu a R$ 400 bilhões.
FHC também incentivou os estados e municípios a venderem as ações de sua propriedade.
Assim, no final do seu governo, em dezembro de 2002, o governo só detinha 38% do capital social da Petrobrás.
HP: De lá para cá houve alguma mudança nesta situação?
FERNANDO: No governo Lula, com a lei da cessão onerosa e capitalização da Petrobrás, o governo passou a deter 48% do capital social. No governo Bolsonaro, ele mandou o Banco do Brasil e a Caixa Econômica venderem as ações de sua propriedade. Assim, o governo voltou a deter apenas 36,75% das ações totais da Companhia.
HP: E sobre a política de distribuição de dividendos durante o governo Bolsonaro?
FERNANDO: Em 2022, no governo Bolsonaro, a Petrobrás distribuiu absurdos R$ 215 em dividendos. Esse montante incluiu a venda de ativos subfaturados como se fosse lucro. Por exemplo, a refinaria de Mataripe, a Relam foi vendida por menos da metade do preço avaliado por especialistas. A Petrobrás Distribuidora também foi vendida por preço absurdamente baixo. Só o mercado que ela detinha, valia mais que o preço de venda.
Portanto, dos 215 bilhões distribuídos a sua destinação foi: 1) o governo recebeu 36,25%, ou R$ 79 bilhões; 2) os acionistas privados receberam R$ 136 bilhões; 3) destes, 44% – percentual atual – foram para a bolsa de Nova Iorque. Ou seja, R$ 95 bilhões foram para o George Soros e fundos abutres.
“Dos 215 bilhões distribuídos a sua destinação foi: 1) o governo recebeu 36,25%, ou R$ 79 bilhões; 2) os acionistas privados receberam R$ 136 bilhões; 3) destes, 44% – percentual atual – foram para a bolsa de Nova Iorque. Ou seja, R$ 95 bilhões foram para o George Soros e fundos abutres”
HP: E os royalties e participações especiais. Eles têm beneficiado de alguma forma o país?
FERNANDO: O mais grave ainda é o fato de que, na cessão onerosa, o governo, visando incentivar os investimentos da Petrobrás, vendeu para ela sete blocos com previsão de produzir 5 bilhões de barris que foram isentos de pagar a Participação Especial, que é uma parcela maior que os royalties para grandes campos. Portanto, o maior campo de águas profundas do mundo – Búzios – está produzindo sem pagar Participação Especial. Assim, o povo brasileiro está sendo ludibriado em favor de acionistas estrangeiros.
HP: E as estimativas da cessão onerosa ficaram nos 5 bilhões de barris?
FERNANDO: Cabe lembrar que, iniciada a exploração essa área da cessão onerosa revelou uma reserva provável de 22 bilhões de barris, que por sua magnitude, pagaria Participação Especial da ordem de 40%, mas está isenta.
Outro dado importante é o fato do custo total de produção do barril do Pré-Sal estar abaixo de US$ 25. Assim o lucro da Petrobrás, da ordem de US$ 50 por barril, com isenção de alguns impostos está sendo repassado no percentual de 67,25% para acionistas privados, estrangeiros em sua maioria, em detrimento do povo brasileiro.
HP: E o que você está achando das críticas à declaração de Lula de que a Petrobrás deve se preocupar mais com os 200 milhões de brasileiros do que com seus acionistas?
FERNANDO: A declaração do Lula está correta. A maior manifestação pública da história do país, que reuniu de representantes de toda a sociedade foi a campanha do “Petróleo é nosso”, que visava que o nosso petróleo era em benefício do povo brasileiro. Portanto, o lucro da Petrobrás tem que ser usado em favor do povo brasileiro.
“A declaração do Lula está correta. A maior manifestação pública da história do país, que reuniu de representantes de toda a sociedade foi a campanha do “Petróleo é nosso”, que visava que o nosso petróleo era em benefício do povo brasileiro. Portanto, o lucro da Petrobrás tem que ser usado em favor do povo brasileiro”
HP: A Aepet avaliou que há um aumento exagerado de dividendos e pouco investimento. O que você acha disso?
FERNANDO: O papel da Petrobrás é incentivar o investimento, a geração de emprego, o desenvolvimento tecnológico e o incentivo à empresa nacional. Ela deve distribuir dividendos de forma racional. Isto não está sendo feito agora. A atual diretoria está ainda distribuindo lucro muito acima da que fazem as grandes petrolíferas, conforme mostra o presidente da Aepet, Felipe Coutinho, em seu artigo “Direção da Petrobrás mantém investimentos baixos e dividendos insustentavelmente altos em 2023“, publicado recentemente pela entidade.