Pequim estendeu o tapete mas os 15 acordos revelados são memorandos que podem levar anos para se concretizarem, conforme analisou a Bloomberg. O visitante se deparou com protestos em Tóquio, Seul e Manila.
Assim como já ocorrera em Tóquio e Seul, manifestantes repudiaram em Manila, capital das Filipinas, na segunda-feira (13) a presença do presidente norte-americano Donald Trump, queimando um boneco gigante com a cara e o topete louro dele – e discreto bigodinho de Hitler -, montado sobre uma suástica, e segurando um míssil e um saco de dólares.
Trump participou nas Filipinas da cúpula da Asean – a Associação de livre comércio do Sudeste asiático -, como parte do tour de 12 dias pela Ásia em que esteve também na Coreia do Sul, na China e no Vietnã. “Ban Trump!”, exigiram os manifestantes, que marcharam até às imediações da embaixada americana, apesar da tropa de choque e dos canhões de água. A Asean é composta por dez países da região.
“O imperialismo dos EUA traz apenas guerras e destruição em suas neocolônias como a nossa”, afirmou Kristine Cabardo, líder da AKLAS, uma aliança juvenil de Mindanao. Um cartaz com a cara de Trump dizia simplesmente: “cala a boca e cai fora”. Os manifestantes também rechaçaram o presidente filipino Duterte.
Em Seul, aos brados de “não a Trump, não à guerra”, milhares de manifestantes marcharam na terça-feira (7) no centro da capital sul-coreana que, nos cálculos dos maníacos do Pentágono, sofreria 300 mil mortos só nos primeiros dias de uma guerra, e isso no caso que não fossem usadas armas nucleares. Aproveitando a estadia de Trump, três porta-aviões nucleares ianques ensaiaram um ataque à Coreia Popular. Ele encenou visitar a Zona Desmilitarizada, mas foi impedido, asseverou, pelo mau tempo.
Antes, estivera em Tóquio, onde também foi obsequiado por uma multidão com o grito de “Fora!”. Em reunião com o primeiro-ministro Shinzo Abe, fez um comercial dos antimísseis norte-americanos a preços quase módicos. Na sua primeira atividade, na base de Yokata, voltou a ameaçar a Coreia Popular, dizendo que “no passado, nos subestimaram; não foi agradável para eles, foi?”. O que foi entendido no Japão como deslavada apologia de Hiroxima e Nagasaki.
“SONHO INDU-PACÍFICO”
Durante a viagem, Trump também se referiu a um novo “conceito” da política imperial ianque: “o sonho indo-pacífico”. A vontade de atrair a Índia (Oceano Índico) para a política de contenção da China. Como se sabe, é sempre um alívio para Trump sumir do cerco em Washington, da chicana do “Russiagate” e das ameaças de impeachment, posando mundo afora como o mafioso-em-chefe comprometido em reerguer as glórias do alquebrado império, ou o “América First”, como gosta de alegar.
Conforme o New York Times, a Casa Branca havia “cuidadosamente construído” uma narrativa sobre essa viagem como a de “um estadista que organizava uma coalizão mundial para enfrentar uma Coreia do Norte nuclear” e a de “um líder populista trabalhando para corrigir os desequilíbrios do comércio”, mas Trump não se aguentou e tuitou – e tudo voltou como dantes no quartel de Abrantes.
As ameaças e ofensas que Trump proferiu em Seul – mais os três porta-aviões – foram prontamente respondidas por Pyongyang, que o classificou de “velho lunático”. Ao que Trump retrucou, refutando o “idoso”, e dizendo que não tinha chamado ainda Kim Jong Un de “baixo e gordo”. O que provocou uma enxurrada de memes nas redes sociais, sobre o fato de Trump não reclamar do “lunático”, só do “idoso”. Lunático tudo bem, mas “idoso”, nunca!
Sua ida a Pequim era um enorme contraste, entre um presidente chinês recém saído de um congresso que o consagrou e à nova etapa do desenvolvimento da nação chinesa, e a do presidente Trump, caçado pelo investigador especial Robert Mueller. Pequim estendeu o tapete vermelho e foram anunciados acordos de US$ 250 bilhões.
“O número é impressionante”, analisou a Bloomberg, acrescentando que “a realidade, no entanto, é que os cerca de 15 acordos revelados na quinta-feira são na sua maioria memorandos de entendimento não vinculativos e podem levar anos para se materializarem – se o forem”.
Quando chegou à sede da cúpula da APEC (Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico) – que reúne 21 países -, em Da Nang, Vietnã, Trump bem que se esforçou para dizer que o sistema de comércio que os EUA impuseram goela abaixo do mundo inteiro agora é injusto e prejudica os EUA, e reclamando que a Organização Mundial do Comércio “beneficiou outros países às custas dos EUA”, mas que, daqui para a frente, “só acordos bilaterais” com base no “América First”.
APEC REPETE DAVOS
A cúpula da APEC repetiu aquele Fórum de Davos, em que o presidente chinês parecia ser o presidente norte-americano de outros tempos, enaltecendo a “globalização”, enquanto Trump era o “protecionista” do meus monopólios primeiro, minha Wall Street primeiro – e o resto que se lasque.
Em paralelo, ocorreu o célebre esbarrão, caminhando, de Trump com Putin – mais do que isso, seria descrito pelos farsantes do “Russiagate” como a derradeira prova de que o bilionário é mesmo agente de Moscou. A Síria serviu de álibi. Quanto ao que foi declarado conjuntamente, o que a Casa Branca diz não necessariamente é o que ocorre no terreno, já dizia a CIA, e os últimos fatos – como as ameaças sauditas ao Líbano – são prova disso.
Bem que Trump tentou resgatar sua política original de distensão com a Rússia para concentrar as energias contra a China em ascensão, mas ficou difícil sustentar. Primeiro ele disse acreditar que Putin “realmente sente – e ele sente fortemente – que não se intrometeu em nossas eleições”. Ele disse também que “ter a Rússia em uma postura amigável, ao contrário de sempre lutar com eles, é um trunfo para o mundo e um trunfo para o nosso país, não um passivo”.
O establishment apertou e Trump fez um meia volta volver, e disse acreditar nas “nossas agências de inteligência, estou com as nossas agências” – que sabidamente fabricaram o “Russiagate” junto com o aparato democrata.
Mas foi o Financial Times que melhor sintetizou o resultado da visita de Trump à Ásia e em especial, China. “Acho que todos foram polidos”, assinalou um negocista entrevistado, e “mostraram disposição de fechar negócios”. Mas – concluiu – “tenho de pensar que de alguma forma estão rindo pelas suas costas [de Trump], e os chineses certamente estão. Não acho que nenhum deles tenha a intenção de entrar em acordo com ele, certamente não nos termos que ele quer”.
ANTONIO PIMENTA