O empresário Glaucos da Costamarques, contestado pela defesa de Lula, resolveu contar tudo sobre as transações envolvendo o terreno que seria para o Instituto Lula. Ele pediu nesta segunda-feira (18) ao juiz Sérgio Moro, através de seu advogado, a quebra de seu sigilo telefônico. O objetivo da medida é esclarecer os fatos relativos à compra do terreno. Segundo o empresário, em 2011 ele foi procurado por Roberto Teixeira, advogado de Lula e por seu primo, José Carlos Bumlai, para convencê-lo a participar da compra de um terreno em São Paulo.
Glaucos diz que a quebra do sigilo vai esclarecer todo o episódio em que ele foi acionado para intermediar o negócio. Teixeira teria dito ao empresário, nessas conversas telefônicas, que ele adquirisse o direito de compra do terreno para em seguida repassá-lo a outro comprador. Este comprador era Demerval Gusmão, dono da DAG Construtora, que foi acionado por Marcelo Odebrecht. Segundo Gusmão, Marcelo, de quem era amigo, disse a ele que participasse da compra porque a Odebrecht não poderia aparecer no negócio.
Glaucos, então, entrou na transação e adquiriu o seu direito de compra. Depois repassou esse direito para a DAG. Recebeu por isso R$ 800 mil. O dono da DAG contou em seu depoimento que resistiu a repassar os recursos para Glaucos. Afinal, “ele não tinha feito quase nada”. No fim acabou pagando. Quando Lula desistiu do projeto, Demerval tentou vender o terreno. Não conseguindo, ele cobrou da Odebrecht e foi ressarcido dos R$ 7 milhões gastos para adquirir o imóvel.
Glaucos saiu do negócio com R$ 800 mil limpos. Segundo sua defesa, ele foi cobrado posteriormente por Roberto Teixeira para que devolvesse esse dinheiro. Costamarques conta que foi reclamar com seu primo Bumlai, mas este respondeu que não podia se “indispor com esse pessoal”. “Faça isso por mim”, pediu Bumlai. Ele não aceitou devolver os R$ 800 mil porque teria que pagar impostos. Concordou em devolver somente R$ 650 mil. Na petição desta segunda-feira a defesa apresentou extrato bancário de abril de 2011 comprovando o saque de R$ 650 mil em espécie.
O empresário relata, através de sua defesa, que dois homens enviados por Roberto Teixeira foram até sua residência “em um carro preparado para o transporte seguro de valores” e transportaram os R$ 650 mil. Segundo Costamarques, as ligações telefônicas com Teixeira poderão provar que foram feitas tratativas para o recebimento, por parte dessas duas pessoas, dos R$ 650 mil arrecadados com a transação do terreno.
Posteriormente, Costa Marques foi convencido novamente pelo primo Bumlai a participar da compra do apartamento vizinho a Lula em São Bernardo. O empresário informou que adquiriu o imóvel e passou quatro anos sem receber nenhum aluguel pela suposta locação da família Lula. Só após 2015 ele passou a receber. Ele disse que sempre achou que o apartamento não lhe pertencia de verdade. Achava que pertencia a seu primo Bumlai, um dos acusados de operar esquemas de propina para Lula. “Depois que o Bumlai foi preso, eu pensei, agora o apartamento é meu mesmo. Já está no meu nome mesmo, então eu vou assumir. Porque até aquela data, na minha cabeça, eu tinha comprado para o José Carlos e ele estava me devendo esse dinheiro do apartamento”, disse Marques no depoimento a Sérgio Moro.