A presidente do PT criticou Campos Neto por açular esse “nervosismo” dos banqueiros e disse que o país tem que programar crescer no mínimo 4%
A deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, criticou, nesta terça-feira (16), em entrevista à Globo News, as declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre a mudança da meta fiscal anunciada pelo governo para o ano de 2025. Segundo ela, o governo não pode deixar de fazer os investimentos produtivos e sociais para atender a um suposto “nervosismo do mercado”.
Gleisi acrescentou que os comentários de Campos Neto alimentam esse nervosismo que, segundo ela, “não tem o menor sentido”. “O presidente Lula já tinha avisado que se as metas fiscais atrapalhassem os investimentos e os programas sociais, elas seriam revistas”, argumentou a deputada. “O mercado já sabia disso”, acrescentou.
“A meta que o país tem que ter é a meta de crescimento. Temos que definir, por exemplo, crescer 4% ao ano e vermos o que tem que ser feito para isso”, defendeu Gleisi. Ela minimizou as alegações de que poderia estar havendo descontrole das contas públicas. “Não há esse descontrole e a relação dívida PIB se resolve fazendo o país crescer”, insistiu a deputada.
Os comentários de Campos Neto foram feitos num evento patrocinado pelo think tank norte-americano Council on Foreign Relations, uma central de defesa dos interesses da Casa Branca. Ele defendeu que o governo siga com uma meta fiscal que priorize os pagamentos de juros da dívida em lugar de programar investimentos, que ele classifica como “gastos”.
“Sempre que há uma mudança no governo, isso torna a âncora fiscal menos transparente ou menos crível”, afirmou. “Assim, o custo da política monetária se torna mais alto”, disse Campos Neto. “O ideal é não mudar as metas”, prosseguiu.
A própria presidente nacional do PT reconheceu que reduzir o déficit de 2023, que foi de 2,3% do PIB, para zero em 2024, como está previsto na meta de Fernando Haddad para esta ano, já é um “ajuste fiscal muito forte”. Aliás, não só a deputada, mas diversos economistas brasileiros alertaram para o absurdo de se programar déficit zero quando o país precisa urgentemente de investimentos públicos para crescer.
Mas, tanto Roberto Campos Neto, quanto o chamado mercado, que na verdade não passa de um conglomerado financeiro formado basicamente por bancos e grupos estrangeiros, acham que é pouco. Eles já abocanharam R$ 740 bilhões do Orçamento da União em juros nos últimos 12 meses, mas não estão satisfeitos. Querem mais recursos públicos em 2025.
A insistência em manter a atual meta de déficit fiscal zero, que enfrentou resistências dentro do próprio governo, já trouxe como consequência imediata o bloqueio de R$ 2,9 bilhões do Orçamento da União deste ano. A manutenção do arrocho fiscal obriga o governo a fazer bloqueios nas verbas da Defesa, das Cidades, da Segurança, etc, mas ele não pode tocar na maior despesa do governo, que é o pagamento de juros.
Como vimos, essa despesa ficou em R$ 740 bilhões nos últimos 12 meses e é ilimitada e incontrolável. Ela consome quase metade do Orçamento da União, enquanto as verbas que deveriam ser destinadas para a sociedade e para a produção sofrem cortes seguidos para que essas metas fiscais irrealistas e restritivas sejam atingidas.
Se for mantido esse objetivo de zerar o déficit público este ano, dificilmente será revertida a insuficiente taxa de investimento que foi observada no ano passado. O Brasil teve uma taxa de 16,5% do PIB em 2023, contra 18,8% observados no ano anterior. Isso é muito pouco e inviabilizará qualquer retomada do crescimento da economia. Segundo representantes da indústria, o país precisa de uma taxa de investimento de no mínimo 24% do PIB para garantir um crescimento sustentado.
O fato do governo ter revisto a meta programada, de um superávit primário de 0,5% do PIB em 2025, para zero, mostra que alguém dentro do governo teve a coragem de alertar para o grau de loucura e de irresponsabilidade que tomou conta da atual equipe econômica. É um fato da realidade que, mesmo com o recuo de superávit de 0,5% para déficit zero no ano que vem, o país vai se manter estagnado economicamente.
A taxa de investimento brasileira não só não vai subir, se essa política for mantida, como, certamente, cairá. E para mostrar o nível que está a ganância dos rentistas, nem mesmo este pequeno recuo do governo está sendo aceito pelos monopólios financeiros. Eles querem mais. Por isso, o “nervosismo” criticado por Gleisi. O “mercado” não admite reduzir um centavo em seus ganhos bilionários.