A atriz Regina Duarte informou na segunda-feira (20), depois de se reunir com Jair Bolsonaro no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, que vai fazer um teste na Secretaria da Cultura e ver se aceita o convite para substituir o aprendiz de nazista, Roberto Alvim, que imitou Joseph Goebbels, chefe da propaganda de Hitler, e, apesar do empenho de Bolsonaro por sua permanência, acabou sendo afastado do cargo após o repúdio de todo o Brasil.
É natural que a atriz da Globo queira fazer um teste. Primeiro porque a TV Globo, com quem ela tem um longo contrato de trabalho, já avisou, em nota, lida em pleno Jornal Nacional, que, se ela aceitar, terá que pedir para sair da emissora. Segundo porque ela vai se deparar com cada figura na Secretaria de dar medo.
A área de Cultura de Bolsonaro, como, aliás, todo o governo, só tem reacionário e maluco. O Alvim fantasiado de Goebbels é só um deles. Era só a ponta do iceberg. Vejamos a lista.
Tem o presidente da Funarte, maestro Dante Mantovani, que jura de pés juntos que a terra é plana. “Prove que a Terra é uma bola de água giratória. Aposto que vai adiar essa prova ad eternum e citar como fonte inquestionável o estúdio fotográfico da Nasa, que tem sim ótimos desenhistas, alguns inclusive que já revelaram as fraudes praticadas por lá”, argumentou.
É dele também a frase que o “rock ativa a droga, que ativa o sexo, que ativa a indústria do aborto”. “A indústria do aborto, por sua vez, alimenta uma coisa muito mais pesada, que é o satanismo. O próprio John Lennon disse abertamente, mais de uma vez, que ele fez um pacto com o diabo”, prosseguiu o mais novo funcionário de Regina Duarte.
O chefe da Biblioteca Nacional, Rafael Nogueira, é monarquista de carteirinha e seguidor do astrólogo e guru Olavo de Carvalho. Em uma postagem há dois anos, ele associa o analfabetismo às letras de compositores famosos. “Livros didáticos estão cheios de músicas de Caetano Veloso, Gabriel o Pensador, Legião Urbana. Depois não sabem por que está todo mundo analfabeto”, disse.
Ele é próximo da produtora Brasil Paralelo, arapuca especializada na difusão de ideias de direita no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro.
Nogueira estava nos últimos tempos em Portugal por causa do “Colóquio Olavo de Carvalho” e incentiva seus seguidores a apoiarem o financiamento coletivo do filme “A Última Cruzada”. A obra, prevista para estrear no ano que vem, “promete mostrar eventos que teriam sido negligenciados pela historiografia de esquerda”.
A jornalista Letícia Dornelles, que assumiu a Fundação Casa de Rui Barbosa, não é do ramo e, numa canetada, extinguiu o Centro de Pesquisa do órgão, um dos mais importantes fora de universidade no Brasil e referência em história da imprensa, da cidade e da escravidão.
Foram dispensados a crítica literária Flora Süssekind, a jornalista Joelle Rouchou e o sociólogo José Almino de Alencar – todos da função de chefe do Centro de Pesquisa em Filologia, História e Ruiano, respectivamente. E foram exonerados Antonio Herculano Lopes, até então diretor do Centro de Pesquisa, e Charles Gomes, chefe do Centro de Pesquisa em Direito. Os dois tinham cargo em comissão. Os funcionários estão protestando contra o arbítrio.
Na Fundação Palmares a situação é ainda mais esdrúxula. Roberto Alvim nomeou Sérgio Camargo, um negro que afirmou que “se você é africano e acha que o Brasil é racista, a porta da rua é serventia da casa”. Ele diz que não há racismo no Brasil. Para Camargo, racismo real existe nos Estados Unidos.
“A negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda”, afirmou nas redes sociais. Camargo prega, ainda, a extinção do movimento negro. “Fortalecê-lo é fortalecer a esquerda.” E considera a escravidão terrível, mas “benéfica” para descendentes: “Negros do Brasil vivem melhor que os negros da África”, afirmou. A indicação é tão estapafúrdia que a Justiça barrou a sua nomeação. Ele não assumiu até agora.
Ou seja, dá para entender muito bem porque Regina Duarte quer fazer um teste antes de aceitar o cargo. Não é só o desmonte da estrutura por parte de Bolsonaro que ela vai encontrar pela frente. Não é só o desrespeito e o ódio de Bolsonaro com o mundo artístico e com a Cultura. Não é só a situação ridícula de ter a Secretaria submetida ao Ministério do Turismo, que é comandado pelo chefe do laranjal de Minas Gerais.
É o verdadeiro cipoal de figuras sinistras, de reacionários de todos os tipos, de malucos e fanáticos seguidores de Bolsonaro que estão na Cultura. São esses os novos “amigos” que vão conviver com a antiga “namoradinha do Brasil”. Vejamos se ela vai chafurdar com tudo isso ou vai querer preservar sua reputação.