
Ministro rebateu bolsonaristas, que alegam que não houve golpe porque ninguém morreu. “Não se formaliza golpe”, disse Cármen Lúcia
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, rebateu no julgamento da Primeira Turma a argumentação de que o ataque de 8 de janeiro não teve importância ou violência porque ninguém morreu e disse que foi só depois do golpe de 1964 que centenas foram mortos.
“No dia 1º de abril de 1964 também não morreu ninguém. Mas centenas e milhares morreram depois. Golpe de estado mata. Não importa se isso é no dia, no dia seguinte ou alguns anos depois”.
“Golpe de estado é coisa séria. É falsa a ideia de que uma tentativa de golpe de Estado, porque não resultou em mortes naquele dia, é uma infração penal de menor potencial ofensivo ou suscetível ao princípio da insignificância”, falou.
No julgamento que tornou Jair Bolsonaro réu, Dino citou o filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, que conta a história da família do ex-deputado Rubens Paiva, que foi morto e teve seu corpo jogado no mar pela ditadura militar implantada em 1964.
“O que eles estão mostrando ali? Remarcando o caráter permanente e hediondo do desaparecimento de pessoas, de tortura e assassinatos que derivam do que? De um golpe de Estado”, avaliou.
Para Dino, minimizar uma tentativa de golpe “é uma desonra à memória nacional, uma agressão às famílias que perderam familiares em um momento de trevas”.
“Aqueles que normalizaram a chegada de Mussolini e Hitler ao poder certamente se arrependeram quando viram as consequências nos odientos campos de concentração vitimando o povo judeu e outras tantas minorias na Europa”, comparou.
A ministra Cármen Lúcia declarou que uma ditadura “vive da morte” de pessoas. “Ditadura mata. Ditadura vive da morte, não apenas da sociedade e da democracia, mas de seres humanos de carne e osso, que são torturados, mutilados, assassinatos toda vez que contrariar o interesse daquele que detém o poder para o seu próprio interesse”, declarou a decana do Supremo.
“Não se faz um golpe em um dia, e como o golpe não acaba em uma semana, em um mês. Nós sabemos como foi viver o tempo todo com o ruído debaixo dos pés”, continuou.