João Vicente Goulart, filho do ex-presidente Jango, participou nesta quinta-feira (28) da Sessão Solene da Câmara Legislativa do Distrito Federal em homenagem aos 100 anos de nascimento de João Goulart. Ele lamentou que o centenário de Jango coincida com “um momento difícil de nosso País”.
João Vicente criticou o atual governo, que “após 55 anos, tenta descontruir o que a academia e a história já comprovaram”. Para ele, “64 foi um golpe de estado dos mais violentos, que assassinou, torturou e violou os direitos humanos”, acrescentando que golpe de Estado não se comemora, numa alusão à iniciativa de Bolsonaro de comemorar a data da derrubada de Jango.
Na opinião João Vicente, enquanto alguns querem comemorar o golpe, o importante é relembrar as conquistas do povo brasileiro, “não somente relembrando Jango, mas construindo uma nova proposta para enfrentar os desafios e libertar o Brasil”.
O filho de Jango, que disputou a Presidência da República em 2018, disse que é necessário “criar condições, pacificamente, para o povo brasileiro se libertar do mercado financeiro internacional que ameaça os direitos trabalhistas”. Ele também lembrou que esta é a segunda vez que a Câmara do DF homenageia Jango, que já recebeu o título de Cidadão Honorário de Brasília, por iniciativa da então deputada Celina Leão.
Todos os participantes do evento aproveitaram para criticar o governo do presidente Jair Bolsonaro e rechaçaram o golpe militar de 1964, que retirou Jango do poder. Também defenderam a retomada do projeto de construção de um memorial a João Goulart, que tem espaço destinado no Eixo Monumental.
A iniciativa de promover o debate foi do deputado Prof. Prof. Reginaldo Veras (PDT), que destacou que João Goulart foi amado pelo povo e desafiou os interesses dos grupos de elite do País, ao levar adiante as chamadas reformas de base. Veras afirmou que a história é cíclica e comparou o contexto do golpe de 64, com as “ameaças de retirada de direitos dos trabalhadores” dos dias atuais.
Verônica Goulart, secretária geral do Instituto João Goulart, afirmou que o memorial a Jango atuaria como um centro cultural e de resistência. Ela destacou a criação da UnB e a fixação da cidade livre, hoje Núcleo Bandeirante, como ações diretas de João Goulart que impactaram a vida da capital. Lamentou que Jango tenha sido vítima de “mentiras propagadas” contra ele e seu governo, “como no fascismo”. Para ela, Jango deixou sementes, em cada um que o reconhece vivo no rosto do trabalhador brasileiro.
O secretário do Trabalho do GDF, João Pedro Ferraz, disse que teve o dissabor de ter presenciado dois golpes à democracia, em 1964 e 2016. Segundo ele, a homenagem ao centenário de João Goulart é uma oportunidade de reconhecer “um dos heróis da resistência, do trabalhismo e que deixou grande legado”. Ferraz lamentou que “ameaças à democracia e à classe trabalhadora continuem vivas” e criticou a extinção do ministério do Trabalho, “símbolo da luta dos trabalhadores”.
Durante a discussão houve ainda a exibição de um vídeo sobre a vida do presidente João Goulart, os momentos do golpe militar, a partida para o exílio no Uruguai em 4 de abril de 1964, até os seus últimos dias de vida. Até hoje, ele é o único presidente brasileiro morto no exílio. Jango faleceu em 1976.
Falaram ainda Vera Lêda Ferreira, da Nova Central Sindical de Trabalhadores, o deputado Fábio Felix (Psol), que falou em nome do bloco Democracia e Resistência, que conta com os petistas Chico Vigilante e Arlete Sampaio. Todos ressaltaram a importância de Jango na luta do povo brasileiro.
O presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGBT), Flauzino Antunes, disse que Jango foi um presidente “amado pelo povo, injustamente retirado do poder, mas que deixou marcas na sociedade brasileira”. “Infelizmente hoje assistimos um grande desmonte nos avanços da era Jango”, denunciou. Para Rodrigo Rodrigues, secretário geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Jango foi um dos “maiores presidentes deste País, grande trabalhista e deixou um saldo memorável para o Brasil”.
Fonte: Comunicação Social – Câmara Legislativa – Luís Cláudio Alves