Membro do núcleo bolsonarista jogou Mauro Cid ao mar. Insinuou na CPMI que o ajudante de ordens mentiu. Disse que Cid não participava de reuniões, não sabia de nada e criou fantasias
O general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), afirmou na sessão desta terça-feira (26) da “CPMI do Golpe” que o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, que está dando detalhes à Polícia Federal sobre os planos golpistas urdidos no Palácio do Planalto, não sabia de nada.
Com o intuito de tirar o corpo da fracassada tentativa de golpe e tentar defender o chefe, disse que a reunião, descrita por Mauro Cid à Polícia Federal, entre Jair Bolsonaro e os comandantes das três forças para pedir apoio ao golpe era “pura fantasia” do ex-ajudante de ordens.
Inicialmente, Augusto Heleno tentou desautorizar as informações dadas por Mauro Cid sobre a reunião em que Jair Bolsonaro pediu – sem sucesso – apoio dos militares ao golpe de Estado, afirmando que elas não podiam ser levadas em conta porque eram sigilosas.
No entanto, como as revelações foram muito contundentes, o general tentou desqualificar a credibilidade de Mauro Cid. Disse que ele não participava de reuniões, “não decidia nada” e chamou de “fantasias” as suas informações. Ninguém tinha afirmado que Cid decidia qualquer coisa. O que se mostrou na sessão é que Mauro Cid assistia às várias reuniões junto com Bolsonaro. Isso foi registrado em várias ocasiões.
Ao ser defrontado com uma imagem de uma reunião com a presença de chefes militares em que Mauro Cid estava presente, ele, mais uma vez, tentou minimizar o fato com o argumento de que Cid não decidia nada e que só participava de reuniões quando o presidente o chamava.
De fato, Mauro Cid não informou à Polícia Federal que ele tenha tomado qualquer decisão. O relato de Mauro Cid é de que Jair Bolsonaro consultou os comandantes militares sobre o apoio a um golpe, após receber a minuta da ação golpista das mãos de Felipe Martins, assessor da Presidência.
A minuta descrevia os passos do golpe: decretar a intervenção no Tribunal Superior Eleitoral e a nulidade do resultado das eleições; prender adversários políticos e entregar o poder ao candidato derrotado.
Não se sabe ainda se a minuta do golpe que Felipe Martins entregou a Bolsonaro é a mesma que foi encontrada na residência do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, que ocupava o cargo de secretário de Segurança Pública de Brasília no dia 8 de janeiro e que facilitou a ação dos terroristas na depredação dos poderes da República.
Augusto Heleno tentou também defender os acampamentos golpistas em frente aos quarteis. Disse que eram manifestações “pacíficas e ordeiras”. Confrontado com os dados de que os terroristas fabricaram a bomba para explodir o aeroporto da capital, calou-se. E também sobre o fato de que foi de lá que saíram os elementos que destruíram os Três Poderes, ele manteve a posição de que eram pessoas pacíficas.
O depoente também não explicou o fato de ter recebido em seu gabinete no GSI várias pessoas que estavam nos acampamentos golpistas e que hoje estão presas, algumas delas presas em flagrante no dia 8 de janeiro.
Ele foi confrontado pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) com um vídeo feito após o resultado das eleições em que ele parabeniza os bolsonaristas insatisfeitos com o resultado eleitoral e que clamavam por um golpe de Estado. No vídeo, Heleno aparece chamando os golpistas de patriotas e parabenizando os grupos que queriam impedir a posse de Lula.