Repasses milionários sem transparência irrigam contas de cupinchas do governo. Até o Bradesco informou que o “pagamento” dos fantasmas na boca do caixa, sem conta corrente, é ilegal
O governador bolsonarista do Rio, Claudio Castro, imita o chefe e também cria uma verdadeira orgia com dinheiro público para tentar se manter no poder. É fato que a dimensão do ‘toma-lá-da-cá’ do Planalto é bem maior, já que só com a manipulação ilegal do “orçamento secreto” foram operados R$ 16 bilhões este ano.
Mas a criatividade do discípulo carioca do esquema federal não tem tamanho. Depois de usar a Fundação Ceperj como central de contratação de fantasmas, agora surgem evidências, mostrada pelos jornalistas Igor Mello e Ruben Berta, do UOL, de que o governador usou as finanças da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) para abastecer aliados políticos com verba pública desviada.
Funcionários empregados fantasmas em ao menos 20 mil cargos secretos na Ceperj sacaram – só neste ano – R$ 226 milhões na boca do caixa, segundo o Banco Bradesco. A mesma instituição agora alerta a direção da Uerj para a ocorrência da mesma prática em pagamentos da universidade.
Segundo a reportagem, o movimento foi detectado pelo Bradesco que, no dia 2 de agosto, mandou um ofício à universidade informando que os pagamentos seriam suspensos se os funcionários não abrissem conta corrente, o que foi acatado pela Uerj. Tanto o governo do Rio quanto a direção da Uerj negam irregularidades. O Bradesco enviou ofício com um alerta à universidade a respeito de remunerações por meio de OBPs (Ordens Bancárias de Pagamentos) relacionadas aos projetos realizados com recursos de outros órgãos.
O programa usado para empregar pessoas ligadas, entre outros, ao deputado Rodrigo Bacellar foi o Observatório Social da Operação Segurança Presente. Com previsão de durar até dezembro, o projeto é orçado em R$ 124,5 milhões e prevê gastar 99,7% dessas verbas com pessoal. Não há transparência sobre as contratações e, até agora, só foram disponibilizadas informações de 2021.
Apesar das negativas de irregularidades por parte dos órgãos envolvidos, foram encontrados, com base em listas de contratados relativas ao ano passado, auxiliares de Bacellar na Secretaria de Governo, assessores de vereadores aliados do deputado em Campos dos Goytacazes – cidade do Norte Fluminense reduto do deputado -, além de pessoas ligadas a outros políticos que apoiam o governo.
Confira alguns dos integrantes da lista de beneficiados
Aislan de Souza Coelho, advogado, foi assessor do deputado desde o início de 2019 na Alerj -em junho daquele ano, assumiu o posto de chefe de gabinete. Em junho de 2021, acompanhou Bacellar e foi para a Segov, onde atuou como chefe de gabinete. Ao mesmo tempo em que assumiu seu posto na Segov, Coelho passou a figurar na lista de pagamentos do Observatório Social da Operação Segurança Presente. Ele recebeu pagamentos de R$ 10 mil entre junho e dezembro no projeto, totalizando R$ 70 mil. O valor se somou ao seu salário regular no governo, que era de R$ 18,3 mil.
Fernanda Alves Falquer foi assessora de Bacellar na Alerj entre junho e dezembro de 2020. Ela também ocupou posteriormente posto de chefe de gabinete na Câmara dos Vereadores de Campos dos Goytacazes. Ao mesmo tempo, ela recebeu R$ 70 mil entre junho e dezembro do observatório do Segurança Presente – seu salário era de R$ 10 mil.
Wesley Matthaus dos Santos Oliveira foi nomeado no gabinete de Bacellar na Alerj em junho, com salário de R$ 10,7 mil. Oliveira esteve na folha de pagamento do projeto da Uerj em novembro e dezembro, tendo amealhado R$ 30 mil em apenas dois meses. A esposa dele está na lista dos cargos secretos da Ceperj, tendo recebido sete pagamentos que somam R$ 13,3 mil.
Beatrice Goldman Pompeia da Silveira Laeber foi nomeada por Bacellar na Segov em junho de 2021, ela recebeu R$ 35 mil na Uerj entre junho e dezembro de 2021. Simultaneamente, Beatrice recebia salário de cerca de R$ 1.200 na Segov. Dos R$ 594 milhões transferidos à Uerj, não há como saber o quanto desse dinheiro já foi gasto e de que maneira em razão da total falta de transparência.