Segundo memorando, livros como “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Os Sertões” são inadequados para crianças e adolescentes; Secretário diz que recuará da ordem de recolhimento
Memorando da Secretaria de Educação de Rondônia enviado na quinta-feira (6) às coordenadorias regionais de ensino determinava o recolhimento de 42 livros por serem classificados como “conteúdos inadequados” para crianças e adolescentes. As obras foram censuradas pelo governador coronel Marcos Rocha (PSL), aliado de Jair Bolsonaro no norte do país.
Dentre as obras perseguidas estão “Memórias Póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis, “Os Sertões” de Euclides da Cunha e “Macunaíma” de Mário de Andrade.
Autores brasileiros como Ferreira Goullart, Caio Fernando Abreu, Nelson Rodrigues, Rubem Fonseca também tiveram suas obras citadas na lista, que incluía ainda a coleção “Mar de Histórias”, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira e Paulo Ronai.
No rodapé da lista, consta ainda a observação “Todos os livros do Rubem Alves devem ser recolhidos.
Clássicos internacionais como “O Castelo” de Franz Kafka, e “Contos de Terror, de Mistério e de Morte” de Edgard Alan Poe, não escaparam da censura. (veja a lista completa abaixo)
Segundo a determinação, as coordenadorias regionais deveriam recolher “os kits de livros paradidáticos encaminhados às escolas para compor o acervo das bibliotecas” imediatamente, pois os livros citados eram impróprios, tendo em vista os “conteúdos inadequados as crianças e adolescentes”.
O memorando recomenda ainda que os coordenadores fiquem “atentos às demais literaturas já existentes ou que chegam nas escolas […] a fim de que sejam analisadas e assegurados os direitos do estudante de usufruir do mesmo com a intervenção do professor ou sozinho sem constrangimentos e desconfortos”.
Professores de Rondônia relataram que “as coordenadorias receberam mensagens já pedindo para que os livros fossem separados porque passariam para recolher”. E que alguns livros já haviam sido inclusive colocados em caixas para serem recolhidos, a pedido das coordenadorias de Educação. A carta do secretário era justamente dirigidas aos coordenadores regionais.
A ordem para o recolhimento dos livros consta em um memorando com o nome do secretário da Educação, Suamy Vivecananda, e com a assinatura digital de Irany Oliveira Lima Morais, diretora geral de Educação da secretaria.
Suamy Vivecananda, que chegou a afirmar que a lista e o memorando eram falsos. Mas voltou atrás após ser confrontado pela reportagem do jornal “Folha de S.Paulo”, com imagens do documento dentro do sistema da pasta. O secretário disse então que não acompanhou os trabalhos da secretaria durante a semana (mesmo constando seu nome no memorando) e que as obras não seriam mais recolhidas.