O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), sancionou o projeto que anistia os Policiais Militares processados pelo seu antecessor Paulo Hartung (MDB) que participaram da greve de 2017 dias por aumento salarial. De autoria do próprio governador, o projeto foi aprovado pela Assembleia Legislativa do Espírito Santo na quarta-feira (16).
Em fevereiro de 2017, Policiais Militares de todo o Espírito Santo permaneceram aquartelados durante 21 dias. Os PMs e seus familiares (que permaneciam acampados à frente dos quartéis) reivindicavam aumento real dos salários, o que não acontecia há sete anos, e melhores condições de trabalho, uma vez que faltavam desde coletes à prova de bala até combustível para a frota.
A postura adotada por Hartung foi de ignorar as necessidades dos policiais. Conforme disse a Associação de Cabos e Soldados (ACS) da PM do Espírito Santo, “um evento daquela magnitude só acontece pela omissão estatal”. Na época, Hartung caracterizou a manifestação dos policiais como “chantagem”.
Após acordo para encerrar a greve, Hartung se comprometeu em não perseguir os grevistas, mas não manteve a palavra.
Segundo o secretário de estado de Segurança Pública, Roberto Sá, foram 2.622 procedimentos administrativos instaurados, sendo que 23 policiais foram excluídos da corporação. Ele afirmou também que desde então, houve 57 tentativas de suicídio, sendo oito delas consumadas, além de cerca de 500 policiais afastados por questões de saúde.
Cumprindo com sua palavra, Renato apresentou um projeto de anistia à Assembleia Legislativa, que o aprovou por unanimidade durante sessão lotada por policiais e bombeiros militares, e o sancionou na quarta-feira (16). “Nós estamos fechando esta ferida, na área da segurança pública. [Foi] um mês muito triste pra sociedade capixaba”, afirmou Casagrande
“A avaliação que eu faço é que temos erros cometidos pelos manifestantes que participaram daquela manifestação e tivemos erros cometidos pelo governo tanto em não ter se antecipado ao fato, como não ter tido a capacidade de ampliar o diálogo e construir as pontes para que não houvesse tanto tempo de manifestação, foram mais de 20 dias que causaram prejuízo grande para a sociedade capixaba”, destacou Casagrande.
Segundo o governador, a anistia não resolve todos os problemas se os 127 homicídios cometidos durante o período não forem explicados. “Nós estamos intensificando a investigação das mortes que aconteceram naquele período. Já foram elucidados 62,5% dos crimes contra a vida daquela época. Designei, através do Delegado-Geral da Polícia Civil, dois delegados que, com exclusividade, vão buscar elucidar os demais crimes. É a forma que encontramos como fechar essa ferida e também reconhecer que nos últimos anos temos conseguido reduzir os homicídios no estado, e os policiais, os mais de 2.600, que estavam sofrendo ou iriam sofrer um processo administrativo, eles deram sua contribuição nessa redução”.
“É uma lição para nós do governo para manter o diálogo aberto e para os manifestantes que não devem repetir esse tipo de atitude. Erro dos dois lados é mais do que natural, mas que a gente olhe para a frente. Que a gente olhe para o futuro”, disse.