“Precisamos evitar o total colapso dos sistemas hospitalares em todo o Brasil e melhorar o combate à pandemia”, destacam as lideranças de 21 estados
Governadores de 21 estados apresentaram nesta quarta-feira (10) a proposta de criação de um comitê nacional, composto pelos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, além de representantes dos governos estaduais e municipais para a tomada de medidas conjuntas frente à crise do coronavírus.
O objetivo dos governadores é estabelecer um pacto nacional diante da ausência de uma liderança nacional pelo governo federal contra a pandemia, que já matou 268 mil brasileiros.
No documento, os governadores lembraram a reunião do último dia 12, na qual os governadores debateram com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a proposta de uma ampla pactuação dos três Poderes e das três esferas da Federação, visando ao reforço da luta contra a pandemia do coronavírus.
“Reafirmamos tal proposição, que se tornou ainda mais emergencial pelo agravamento da situação sanitária, com terríveis perdas de vidas, além de danos econômicos e sociais. O coronavírus é hoje o maior adversário da nossa nação”, ressaltaram no texto divulgado pelo Fórum Nacional dos Governadores.
Sob a justificativa de “evitar o total colapso dos sistemas hospitalares em todo o Brasil e melhorar o combate à pandemia”, os governadores reiteram o compromisso quanto a um pacto e apontam três pontos essenciais: expansão da vacinação, com pluralidade de fornecedores, mais compras e busca de solidariedade internacional, com todas as aquisições distribuídas segundo o marco legal do Plano Nacional de Imunização.
Os lideres estaduais também pedem apoio a medidas preventivas, essenciais para conter o vírus, e relatam limites objetivos à expansão de leitos hospitalares, tendo em vista a escassez de insumos e de recursos humanos. “Medidas como o uso de máscaras e desestímulos a aglomerações têm sido usadas com sucesso na imensa maioria dos países, de todos os continentes”, destaca um trecho da carta.
Por fim, o grupo pede apoio aos estados para manutenção e ampliação do número de leitos hospitalares, quando isso for possível. Os governadores propõem ainda a integração de todos os sistemas hospitalares, a fim de usar ao máximo as disponibilidades existentes, “a partir de planejamento e análise diária de cenários em cada unidade federada”.
COLAPSO NACIONAL
O presidente do fórum de governadores, Wellington Dias (PT), governador do Piauí, afirmou hoje que o Brasil já vive neste momento um colapso nacional em razão da pandemia de coronavírus. A declaração foi dada em entrevista coletiva hoje na qual anunciou que 23 chefes de estados firmaram os termos do pacto nacional para conter o avanço da Covid-19.
“A primeira frase que tenho a dizer, e que pode resumir este momento, é que já estamos vivendo um colapso nacional. O que estamos trabalhando agora é para evitar uma tragédia maior”, disse o governador do Piauí.
Segundo Dias, o documento já tem a assinatura de 23 estados dos 27. “Mas não perdemos a linha de diálogo com os demais estados, queremos todos”, diz. Dias afirma que os detalhes finais ainda estão sendo fechados, mas antecipou os três eixos do plano.
“O primeiro são as medidas nas 27 unidades que possam prevenir, cortar a transmissibilidade do vírus. O segundo é cobrar, agir para termos celeridade de vacinação. O terceiro é apoio para a rede de saúde, que precisa neste instante não apenas da parte financeira, mas de equipamentos, para que ninguém morra na porta de um hospital sem ter como respirar”, afirma.
Segundo ele, diante da atual situação, não é mais coerente que medidas sejam tomadas de forma isolada por estados e municípios.
“O caminho não pode ser só mais do Piauí, de um estado. Por isso estive conversando com os presidentes da Câmara, do Senado, com o Judiciário, para que se tenha um pacto nacional pela vida, e não só um jogo de palavras: é uma necessidade. Ontem foram quase 2.000 óbitos. Não podemos perder a sensibilidade”, disse.
“E esse pacto foi feito a muitas mãos, que envolve os três Poderes, mais os fóruns do Judiciário, dos governadores, dos municípios. Vamos estar também dialogando com entidades empresariais e de trabalhadores, com o consórcio nacional de imprensa para que nos ajude”, disse.
Ele explica que o plano é uma “saída paliativa”. “Não queremos iludir ninguém, isso é um fôlego neste momento em que estamos. Ao invés de um estado fazer ação, outro faz depois, porque não busca fazer todos ao mesmo tempo? Cito o Carnaval como exemplo, os 26 estados mais o DF combinando de não patrocinamos eventos e buscando inibir eventos”.
Dias diz que as medidas devem ser nacionais, nas adequadas por cada estado pelo Brasil. “O objetivo é trabalhar a prevenção, mas também a solução definitiva, que é a compra de vacinas e tenha mais vacinação”, disse.
O governador afirma ainda que o plano é como um piso de medidas, ou seja, critérios mínimos que cada estado deve adotar em termos de política de isolamento. Estamos discutindo isso hoje, mas não haverá receio, nenhum vacilo de tomar medidas. O que for necessário fazer, vamos fazer”
Por fim, Dias disse esperar que as medidas de esforço conjunto culminem para o país chegar com 75% de brasileiros até julho. “É possível, somos um dos dez países com laboratórios potentes, com cientistas, expertise em vacinas”, afirma.
UTIS NAS CAPITAIS
A situação é especialmente grave em 16 capitais, entre elas Brasília e Rio de Janeiro, onde os percentuais ultrapassam os 90%. As informações fazem parte de mais um boletim extraordinário do Observatório Fiocruz Covid-19, com base em dados de segunda (8).
Os especialistas da instituição alertaram para a gravidade da situação e para a necessidade de adoção de medidas de restrição de circulação mais rigorosas.
A situação era de colapso total no sistema de saúde em Campo Grande (106%), Porto Alegre (102%) e Porto Velho (100%). Outras capitais à beira do colapso são: Rio Branco (99%), Macapá (90%), Palmas (95%), São Luis (94%), Teresina (98%), Fortaleza (96%), Natal (96%), Rio de Janeiro (93%), Curitiba (96%), Florianópolis (97%), Cuiabá (96%), Goiânia (98%) e Brasília (97%). Em São Paulo a ocupação é de 82%.
Apenas duas capitais têm índices de ocupação das UTIs abaixo de 80%: Belém (75%) e Maceió (73%). As taxas de ocupação são classificadas em zona de alerta crítico, quando são iguais ou superiores a 80%; em zona de alerta intermediário, quando iguais ou superiores a 60% e inferiores a 80%; e fora de zona de alerta, quando inferiores a 60%.